domingo, 29 de março de 2009

Pause.

Estou estudando... 22-29 de Março, 29 Mar-5 Abril, e 5-13 Abril 2009.
(Estudando e trabalhando com Sir Blake Poland - a gentle soul).

sexta-feira, 20 de março de 2009

Sobre o Blog

Percepções - e coisas que aprendi - sobre esse Blog... (feedbacks!)

"O que você é & o que você gostaria de ser? http://espiraisformativos.blogspot.com"
By H. Thyers

"Recomendo (aos que tem coragem): http://espiraisformativos.blogspot.com"
By T. Paiva

quinta-feira, 19 de março de 2009

Experiência #011 (Continuação I...)

Demarcação contínua das terras de Raposa Serra do Sol. 10 votos a 1 no Supremo Tribunal Federal. Julgamento concluído. (Não-índios devem deixar o local, em particular, os rizicultores). Decisão não fácil, decisão necessária.

Hélton, vamos lá... você realmente acredita, conforme exposto, alhures, que a "experiência" é privativa do indivíduo/ou do Self, e que não guarda nenhuma relação primordial com o meio e a tecitura simbólica e factual humana (sociedade) que fazemos parte? No exemplo das comunidades aborígenas, você realmente acredita que a experiência organísmica deles (Erfahrung) não depende de suporte social para desdobrar-se e produzir efeitos? Ou você, realmente, está falando da vivência pessoal (Erlebnis)?

Abaixo, existem 19 teses aprovadas pelos Ministros do STF. Se você estiver falando de Erlebnis, eu até concordo que estas testes não precisam alcançar, necessariamente, o indivíduo concreto em sua vivência - que, em último grau, ele pode alucinar. Se você estiver falando de Erfahrung, gostaria que você me explicasse como é que uma experiência Organísmica pode seguir desconsiderando toda a rede emaranhada de interdições factuais e restrições objetivas que alcançam, interferem e influenciam o ser humano em seu campo de mediações simbólicas. Parece-me que eu preciso estar atento ao meu entorno posto que o Pragmatismo da minha Experiência e do meu Organismo ("meu" e "minha", apenas, no sentido de que "eu" sou parte responsável pelo cuidado desse Organismo) acontecem nos fluxos vários e concretos da Vida. (Acho que esse é um ponto de partida importante, na discussão sobre o que significa Sherpas - sherpas da experiência ou da vivência?).

Nisso, estou falando apenas do Direito, mas é óbvio que meu argumento se expande à tecnologia, e todas as demais criações nossas com as quais nos relacionamos ora como criadores, ora como criaturas.

A propósito, brilhante a posição do Ministro Ayres Britto, quase no final da transmissão do julgamento, ao vivo, pela TV Justiça, diretamente do Plenário do STF. Falando sobre as diferentes denominações entre indígenas e silvícolas, o Ministro-Relator destaca que "silvícolas" foi a denominação abolida pelo legislador, por entender que os índios - habitantes primitivos das Américas - não se configuram, necessariamente, como povos da selva, com tangas imaginárias. E, daí, ensina-nos o Ministro:

"... não é preciso usar tanga para merecer a proteção da toga..."

Eu achei bárbaro, e ganhei a minha tarde! Me senti protegido e respeitado pelo Estado e pela República Brasileira. Talvez pela primeira vez! Vocês lembram da historieta, "Ainda existem juízes em Berlim"?

Por João José Sady
http://anoiteestrelada.blogspot.com/2004/11/ainda-existem-juzes-em-berlim.html

Existe uma lenda sempre lembrada nos livros de fábulas jurídicas, contando que um pequeno proprietário possuía sítio encravado no meio de terreno no qual o imperador da Alemanha pretendia construir um parque. O imperador chama o humilde cidadão e tenta, sem sucesso, convencê-lo a vender o imóvel. Exasperado, passa a ameaçar fazer uso de seus poderes para desalojar o teimoso jurisdicionado. Sem temor, o cidadão rechaça as ameaças, afirmando: "ainda existem juízes em Berlim".

Ainda existem juízes no Brasil. Viva a República.

Vejamos se, algum dia, conseguiremos amortizar nossa dívida histórica com nosso passado de cativeiro e extermínio, de aculturação, sobretudo no que se relaciona às comunidades indígenas.


Conforme os mitos indígenas, sobretudo aqueles das tribos Caribé, o Monte Roraima é a morada do Grande Deus, Makunaima. Com razão, lembrou o ministro Eros Grau, por ocasião do seu voto:

... que nos limites das terras indígenas de Raposa Serra do Sol encontra-se o parque Nacional Monte Roraima, “monte sagrado dotado de enorme significado mítico para todas as etnias que habitam essas terras”.

http://www.stf.jus.br/portal/cms/verNoticiaDetalhe.asp?idConteudo=100735&caixaBusca=N


Abaixo, seguem as teses do STF, na tarde de hoje.


***

http://www.stf.jus.br/portal/cms/verNoticiaDetalhe.asp?idConteudo=105036

Notícias STF

Quinta-feira, 19 de Março de 2009

STF impõe 19 condições para demarcação de terras indígenas


No julgamento que decidiu que a terra indígena Raposa Serra do Sol terá demarcação contínua e deverá ser deixada pelos produtores rurais que hoje a ocupam (Petição 3388), os ministros do Supremo Tribunal Federal analisaram as 18 condições propostas pelo ministro Carlos Alberto Menezes Direito para regular a situação nos territórios da União ocupados por índios, e garantir a soberania nacional sobre as terras demarcadas. Ao final dos debates, foram fixadas 19 ressalvas, sujeitas ainda a alterações durante a redação do acórdão, que será feita pelo relator, ministro Carlos Ayres Britto.


Para cumprimento da decisão, foi designado o presidente do Tribunal Regional Federal da 1ª Região, que agirá sob a supervisão do ministro Carlos Ayres Britto, como previu o presidente do Supremo, ministro Gilmar Mendes, na proclamação do resultado do julgamento. “Quanto à execução, o Tribunal determinou a execução imediata confiando a supervisão ao eminente relator, ficando cassada a liminar [que impedia a retirada dos não-índios], que deverá fazer essa execução em entendimento com o Tribunal Regional Federal da 1ª Região, especialmente o seu presidente”, disse Mendes.


As condições estabelecidas para demarcação e ocupação de terras indígenas terão os seguintes conteúdos:


1 – O usufruto das riquezas do solo, dos rios e dos lagos existentes nas terras indígenas pode ser relativizado sempre que houver como dispõe o artigo 231 (parágrafo 6º, da Constituição Federal) o relevante interesse público da União na forma de Lei Complementar;


2 - O usufruto dos índios não abrange o aproveitamento de recursos hídricos e potenciais energéticos, que dependerá sempre da autorização do Congresso Nacional;


3 - O usufruto dos índios não abrange a pesquisa e a lavra das riquezas minerais, que dependerá sempre de autorização do Congresso Nacional, assegurando aos índios participação nos resultados da lavra, na forma da lei.


4 – O usufruto dos índios não abrange a garimpagem nem a faiscação, devendo se for o caso, ser obtida a permissão da lavra garimpeira;


5 - O usufruto dos índios não se sobrepõe ao interesse da Política de Defesa Nacional. A instalação de bases, unidades e postos militares e demais intervenções militares, a expansão estratégica da malha viária, a exploração de alternativas energéticas de cunho estratégico e o resguardo das riquezas de cunho estratégico a critério dos órgãos competentes (o Ministério da Defesa, o Conselho de Defesa Nacional) serão implementados independentemente de consulta a comunidades indígenas envolvidas e à Funai;


6 – A atuação das Forças Armadas da Polícia Federal na área indígena, no âmbito de suas atribuições, fica garantida e se dará independentemente de consulta a comunidades indígenas envolvidas e à Funai;


7 – O usufruto dos índios não impede a instalação pela União Federal de equipamentos públicos, redes de comunicação, estradas e vias de transporte, além de construções necessárias à prestação de serviços públicos pela União, especialmente os de saúde e de educação;


8 – O usufruto dos índios na área afetada por unidades de conservação fica sob a responsabilidade imediata do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade;


9 - O Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade responderá pela administração da área de unidade de conservação, também afetada pela terra indígena, com a participação das comunidades indígenas da área, que deverão ser ouvidas, levando em conta os usos, as tradições e costumes dos indígenas, podendo, para tanto, contar com a consultoria da Funai;


10 - O trânsito de visitantes e pesquisadores não-índios deve ser admitido na área afetada à unidade de conservação nos horários e condições estipulados pelo Instituto Chico Mendes;


11 – Deve ser admitido o ingresso, o trânsito, a permanência de não-índios no restante da área da terra indígena, observadas as condições estabelecidas pela Funai;


12 – O ingresso, trânsito e a permanência de não-índios não pode ser objeto de cobrança de quaisquer tarifas ou quantias de qualquer natureza por parte das comunidades indígenas;


13 – A cobrança de tarifas ou quantias de qualquer natureza também não poderá incidir ou ser exigida em troca da utilização das estradas, equipamentos públicos, linhas de transmissão de energia ou de quaisquer outros equipamentos e instalações colocadas a serviço do público tenham sido excluídos expressamente da homologação ou não;


14 - As terras indígenas não poderão ser objeto de arrendamento ou de qualquer ato ou negócio jurídico, que restrinja o pleno exercício do usufruto e da posse direta pela comunidade jurídica;


15 – É vedada, nas terras indígenas, qualquer pessoa estranha aos grupos tribais ou comunidades indígenas a prática da caça, pesca ou coleta de frutas, assim como de atividade agropecuária extrativa;


16 - As terras sob ocupação e posse dos grupos e comunidades indígenas, o usufruto exclusivo das riquezas naturais e das utilidades existentes nas terras ocupadas, observado o disposto no artigo 49, XVI, e 231, parágrafo 3º, da Constituição da República, bem como a renda indígena, gozam de plena imunidade tributária, não cabendo a cobrança de quaisquer impostos taxas ou contribuições sobre uns e outros;


17 – É vedada a ampliação da terra indígena já demarcada;


18 – Os direitos dos índios relacionados as suas terras são imprescritíveis e estas são inalienáveis e indisponíveis.


19 – É assegurada a efetiva participação dos entes federativos em todas as etapas do processo de demarcação.

Experiência #011

Na tarde de hoje, os ministros do STF estarão decidindo (com alguma sorte para que não ocorram protelações) acerca da demarcação territorial do Super-Organismo chamado "Raposa Terra do Sol", uma reserva aborígena brasileira, em Roraima. Até o presente, foram 9 votos a favor e 1 voto contrário.

Estou, propositalmente, trazendo a discussão de uma "mera" reserva para dentro de um blog experiencial, retomando uma discussão em curso, aqui no Blog, sobre o caráter concreto e tangível da experiência, a sua dimensão e necessidade (?) de um anteparo social para que produza efeitos humanos. Havia iniciado essa problematização, ainda quando falava sobre Erfahrung e Erlebnis, as duas possíveis definições técnicas para o conceito de "experiência". E, ademais, trouxe alguns indícios de que o ponto de divergência para uma e para outra, entre, respectivamente, experiência e vivência, é que a primeira exige uma contrapartida "concreta", de mundo concreto, de pessoas concretas, de efeitos pragmatistas concretos. Se isso for verdade, as comunidades aborígenas precisariam de suporte e anteparo social para serem capazes de produzir sua experiência... a experiência de ser aborígena, no Brasil, ou nesse continente, ou nesse mundo. Se isso for verdade, se a experiência exigir suporte e anteparo para ocorrer, se ela não for uma intercorrência abstrata e solipsista, ainda que única e singular, à la Erlebnis, então, a experiência, por exemplo, do modo como a tratamos, exige, de fato, uma boa dose de facilitação contextual - que é, exatamente, os nossos esforços em termos de Advocacy Experiencial. Essa discussão é muito importante para não estarmos deslocados do mundo concreto humano, sob a pretensa invocação que não temos nada a ver com as construções, símbolos e mediações humanas tangíveis. Acho que é um desafio, pelo menos para mim: adentrar esse universo, ainda que não seja para "colar-me" ou "aderir-me" a ele, completamente, a ponto de tornar-me refém. Se, ao contrário, nossa referência de experiência não for contextual, então, em vez de Erfahrung, o que está sendo aludido em uma categoria puramente abstrata, restrita ao lugar absurdo da essência do indivíduo ou da geografia imaginária do ente, que não tem nada a ver com esse nosso mundo comumente construído, com nossas alguras comumente partilhadas. Deixa também de ser Pragmatista para exigir outra compreensão filosófica, que intermedie o acesso com essa realidade utópica e o conjunto de realidades utópicas relacionando-se entre si, como espelhos suspensos de imagens e fantasias. Estou discutindo, por conseguinte, que Erfahrung não é um fenômeno independente, pluripotente e onisciente de si mesmo. Não se trata, apenas, de um fenômeno autônomo que não está integrado e cuja expressão é interdependente de fatores e influências outras da vida. Se, de fato, não posso dizer o que é ou não-é realidade, posso, ao contrário, observar quais realidades invocam ou não para si uma característica de Soberana. As expressões da vida teriam, nesse prisma, qualquer sensação difícil para legitimar a si mesmas como parte independente, sujeito de uma narrativa e história, onde diversos atores do universo participam, alcançam e são mutuamente influenciados.

Quais seriam, pois, algumas facetas das experiências cotidianas, que estão militando por
suporte comunitário e anteparo social?

(Essa discussão também ressoa na problemática acerca de quais situações e contextos específicos somos capazes de facilitar e devemos ser capazes de propor, em vistas de
sustentar a experiência e seu campo de ressonâncias/transformações. Ocorre-me, ainda, que estou no fluxo das discussões com Hélton, perguntando-me se o Self e as necessidades de singularidades apresentadas pelo mesmo, é da ordem do Erlebnis ou do Erfahrung. E eu tenho uma proposta para esquentar a reflexão: se for do Erfahrung, o Hélton não pode, simplesmente, dizer que tal aspecto não ressoa ou não é contemplado no universo pessoal dele, e que, portanto, não o interessa ou não está incluido pelas adjacências dos seus movimentos. Se for Erfahrung e experiência, suporte, anteparo, sustentações e adjacências são quesitos muito importantes na facilitação de uma experiência. E tanto o são, que não falamos em "criação" de experiências, mas em facilitação de condições que propiciem um fluxo experiencial. Se esse argumento for legítimo, então, existem um conjunto de variáveis que precisam ser alvo da nossa consideração e atenção detalhada, experiencialmente acessada, não por se tratarem de conteúdos primeiros do que somos, mas por emergirem como enraizamentos secundários daquilo que somos e gostaríamos de manifestar. Ocorre-me, então, lembrar, por um princípio Organísmico, que a experiência, que uma dada experiência está na posição de "figura", mas a figura, sempre está em um "fundo" e nunca no vazio quimérico e individual, refratado da vida e das suas contigências).

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http://www1.folha.uol.com.br/folha/informatica/ult124u533857.shtml

13/03/2009 - 08h19

HOMEM IMPLANTA PRÓTESE COM PEN DRIVE APÓS AMPUTAÇÃO DO DEDO

da Efe, em Helsinque

Um finlandês que perdeu parte do dedo anular em um acidente de moto decidiu fazer o implante de um pen drive disfarçado de prótese no local.

O programador de softwares Jerry Jalava contou em seu blog que tudo começou quando se chocou com um animal em uma estrada. Após a batida, o homem deslizou no chão por quase 60 metros, e sua mão esquerda ficou sob a moto. "Quando a moto parou, me levantei. Tirei capacete e luvas. Comecei a falar palavrões e, quando tentei tirar um cigarro do bolso, percebi que estava sem uma parte do dedo", disse no seu diário virtual.

Jerry foi levado a um hospital de Helsinque, onde passou por cirurgia na mão. No entanto, os médicos não conseguiram salvar seu dedo anular esquerdo.

"A história poderia ter um final muito pior. Acho que sobrevivi com o mínimo de ferimentos graças aos equipamentos de segurança", disse.

Recuperado, o programador voltou ao hospital e pediu que fabricassem uma prótese de borracha para seu dedo.

Foi de um médico a ideia de implantar um pen drive na prótese --proposta aceita imediatamente por Jerry.

A história só foi conhecida recentemente, quando o finlandês postou um comentário em um site dedicado a design e tecnologia. O site havia publicado uma fotomontagem que mostrava um dedo que tinha uma entrada USB na extremidade. A imagem pretendia ilustrar a integração entre o homem e a tecnologia.

Jerry, então, mandou uma mensagem, acompanhada por algumas fotografias. "Na realidade, já tenho um "dedo-USB'", disse.

Em poucas horas, o finlandês recebeu uma grande quantidade de e-mails e acabou usando seu blog para explicar como funcionava a prótese.

"Trata-se de um implante desmontável, com um pen drive de 2 GB. Quando tenho que usá-lo, simplesmente deixo meu dedo no computador", disse.


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http://www1.folha.uol.com.br/folha/informatica/ult124u536996.shtml

19/03/2009 - 08h01

JOGO ON-LINE GANHA LICENÇA PARA ATIVIDADES BANCÁRIAS REAIS NA SUÉCIA

Com os bancos do mundo todo passando pela crise econômica, a ideia de transferir a conta bancária para outro planeta tem um certo encanto.

Bancos interestelares ainda não estão disponíveis, mas pode ser possível simular a situação: a empresa criadora do jogo on-line "Entropia Universe", cujo enredo ocorre no planeta Calypso, foi reconhecida com uma licença bancária emitida pela Autoridade de Supervisão Financeira da Suécia na última semana --e planeja abrir um banco real dentro de um ano, ainda que sem uma sede física.

Jogadores de "Entropia" já podem trocar dinheiro real pela moeda virtual usada para os gastos feitos em Calypso.

Dinheiro virtual também pode ser obtido no jogo, caçando, explorando minas, efetuando negócios e demais atividades --que também podem ser remuneradas em dinheiro real.

A moeda virtual, "Projeto Entropia-Dólares", estabeleceu a proporção de troca de 10 para cada 1 dólar norte-americano.

A MindArk, empresa sueca responsável pelo jogo, planeja oferecer serviços bancários como contas-poupança, ordens de pagamento e empréstimos, disse David Simmonds, diretor de desenvolvimento de negócios da empresa.

A companhia não deixou claro que tipo de empréstimo seria feito, mas Simmonds disse que não planeja fazer o tipo de investimento de risco, procedimento adotado por outros bancos.

A licença bancária também significa que os reguladores ganharão mais discernimento no que se refere à possível lavagem de dinheiro no mundo virtual. Simmonds disse que a companhia está vigiando atividades suspeitas.

O "Entropia Universe" é incomum no universo dos jogos por permitir a conversão de dinheiro virtual para real. Muitos dos games on-line, como "World of Warcraft", proíbem esse tipo de troca financeira.

A atividade econômica em "Entropia Universe" gerou algo em torno de US$ 420 milhões no último ano. O jogo tem 850 mil contas de usuários. Nem todas elas representam os jogadores ativos, contudo.

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PS: o câmbio, por exemplo, no Second Life, é flutuante (segue uma outra política monetária, diferente do Entropia Universe - óbvio, os criadores daquele são americanos, e os destes últimos, Europeus), e, geralmente, a conversão de moedas gira em torno de 250 Linden-Dollars (L$) para cada 1 Dólar Norte-Americano (US$).




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http://noticias.uol.com.br/album/090319_album.jhtm?abrefoto=14

Multidão protesta durante o segundo dia de greve geral em dois meses na França, em Lyon. Em meio à crescente tensão social no país, os grevistas, que contam com o apoio de 74% dos franceses, reivindicam que o governo francês tome medidas para proteger o emprego e adote iniciativas para melhorar o poder aquisitivo da população

quarta-feira, 18 de março de 2009

Experiência #010 (Continuação II...)

... Pois é, roda-gigante enorme de sentimentos e enchaquecas. Não estou mal, porém, estou acometido de uma sensação persistente de embriaguez. Não é tontura, não ainda. Não é também por fome. (Deixei de alimentar-me com a lista proibitiva do Otorrino: chá de boldo, chá preto, chá mate, chá verde, Coca, Pepsi, Cerveja Escura, Coisas muito doces ou muito gordurosas... segundo a prescrição, a ingestão desses alimentos seria estimulante para os labirintos). Enquanto diz respeito, somente, ao controle alimentar, acho que é fácil... mas como é mesmo que posso impedir minha cabeça de girar, e girar, e girar? Roda-gigante, sabe!? Cedinho, pela manhã, fui trabalhar, desempenhando funções relativas - e muito caras - daquilo que denominamos Advocacy Experiencial, ou seja, uma Representação Experiencial dos "direitos" e "vivências", do ponto de vista de mundo e de experiência de um cliente. Muito interessante ocupar esse lugar, com o qual, por algumas vezes, ainda durante os estágios, surpreendi-me. Hoje, novamente, não menos instigante. Fui à Escola... calor e chuva, calor e chuva. Volto correndo para casa, venho buscar o Dorje Gonpo, meu cachorrinho tibetano (raça: um Lhasa Apso). Dorje amanheceu, domingo passado, com alguras de uma dor... dor física não identificável, porém, à flor da pele, de modo que não pude abraçá-lo. Fui para a emergência dos cachorrinhos, um lugar agradabilíssimo, com uma médica veterinária incrível: Dra. Gerlene Castelo Branco. O nome do lugar é S.O.S veterinário: SOS de Save Our Souls (Salve Nossas Almas - precisa dizer algo a mais?). SOS era a abreviação que, via de regra, nos telégrafos marinhos, comunicava o desespero de uma tripulação em alto-mar e a tragédia iminente... Fiquei pensando que não está escrito Salve Nossos Corpos, Salve Nossos Sonhos. Afinal, porque a Alma precisaria de socorro? Porque a Alma precisaria da intervenção humana para ser "salva"? O desespero viria a impingi-la com a mácula da descrença, da renúncia à vida eterna? O terror poderia incorrer o bom e justo homem nos cenários da infidelidade ao projeto do absoluto? Salvai-nos, fracos, mansos e humildes, da tentação de manifestar ira e resistência aos desígnos do Deus... é isso!? S.O.S. Não sei. Mas a verdade é que a dor do Dorje era grande, e a minha dor, potencializada pela minha consciência e vontade de tomar controle da situação, era ainda maior. Clínica, médica, injeção, remédio, remédio, silêncio durante o efeito, telefones, latidos. Volta para casa, vigília. Noite, grunidos de impotência na locomoção. Segunda, movimentos contorcidos, dor. Abraços e carinhos suspensos. Remédios, esparmos. Exame de sangue - tudo sob controle. Ainda dor, sob as estrelas. Madrugada, duas, quatro, seis vezes, relâmpagos, pedidos sem palavras: subir na cama, descer por causa do calor, subir durante a chuva, descer para espairecer, subir para aninhar-se, descer para esparramar-se... Terça, remédios. Movimentos limitados. Quarta, nova visita. Radiografia da coluna: érnia de disco em cinco regiões, três compressões lombares, duas compressões cervicais. Cortisona e dois remédios agressivos para conter a dor. 6Kg, 5 anos, menos que três palmos. Subir e descer de escadas suspensos, subir e descer do sofá, da cama. Levantar os potes com ração e água para a altura da boca, reduzir esforços e impactos. "Qualidade de Vida", eu penso. Adrenalina e petróleo gastos. Suor, algumas gotas fartas de estresse, ansiedade, preocupação. Cuidado, cuidado que não é um alerta, que não tem exclamação. É cuidado como transmissão de afeto. Me senti mãe. Lembrei-me, também, da mãe do cliente. Encontrei com minha tia, mãe do meu primo. Mamãe falou comigo... 22h37. Lembrei-me que, em 1989, no lançamento da Internet, eu tinha apenas 7 anos. Ganhei meu primeiro, e mais especial computador aos 10 anos - em 1992. Faziam apenas 3 anos pós lançamento da NET. Eu faço parte dessa geração. Foi um presente do meu avô-Feitosa. Eu escolhi a configuração mais avançada para época, foi encomendada de São Paulo (um Pentium 100MHz). Veio já com impressora e scanner. Naquela época, nossa casa estava em reforma, de maneira que, ocasionalmente, estávamos de aluguel, em um condomínio de apartamentos, simpático, ao lado da Embratel, na Pontes Vieira. Haviam três quartos, e eu me recordo que estava instalado, sozinho, no último quarto, final do corredor: eu, o computador (que ninguém entendia como funcionava!) e um banheiro cujo chuveiro estava quebrado. Rapidamente, conseguimos internet pelo telefone. E assim eu cresci. Virtualmente livre, fisicamente limitado. Foi a internet que me apresentou ao mundo e à cultura. Viva meu avô - que não entendia o computador e sua realidade, mas acreditou que me seria algo útil. Meu avô viveu e morreu ao lado de uma máquina (de escrever) Olivetti. Habitualmente instalada no escritório dele, mas que também viajava ao interior na sela do seu transporte, viajava aos seus outros mundos do passado, das estórias e da imaginação.Não haveria um Blog com máquina de escrever. (Como a vida mudou, desde então.) Eu gosto muito, muito da experiência compartilhada do Blog. (Mas acho que preferiria menos... menos, inclusive, do que a máquina de escrever.) Em que minhas letras aplacam a dor de érnia de disco, em cinco pontos de tensão, no meu fiel cachorro? Em que meus parágrafos e delírios fazem dele, ou da vida dele, ou, mesmo, da minha relação com ele, algo melhor, mais saudável? Acho que fiquei com inveja da habilidade, por exemplo, da veterinária de prescrever uma interdição imediata (que não exige mediação nenhuma subjetiva), ou, ainda melhor, a capacidade dela de aplicar acuputura no cachorro e, rapidamente, com vinte-trinta agulhas, meu amigo-cachorro relaxar, abaixar a cabeça e descansar um pouco. Que bom, que graça. (Graça, não como engraçado, mas como algo sublime!) Agora, ele dorme, sob os meus olhos atentos. Provavelmente, a doutora, na clínica veterinária, estará a madrugada inteira de plantão - e amanhã novamente, e depois novamente. (Ela me dizia que já tem horas para se aposentar.) O Dorje vai se aposentar!? Minha tia, como de costume nas cirurgias, demora para retornar à zona de consciência - foi assim na cesariana de 1988, foi assim, também, antes de ontem, na tireóide. Hipersensibilidade às tentativas agressivas da química para estancar a consciência. É uma violência tão grande, tão grande, que se o indivíduo não morrer do anestésico, "deu tudo certo". Violência tão grande quanto o bombardeio químico da radioterapia - se o organismo não morrer, "deu tudo certo". Violência, imensa, da hemodiálise - recordo-me das lágrimas, da dor física, das perdas psíquicas, da morte real, das vertigens, do cansaço, das renúncias, da falta de água, da sede, da vontade de beber. A medicina salva - gente, cachorros, esperanças. A medicina mata - gente, cachorros, esperanças. A titia acha que valeu a pena a cesárea dela, em 1988 e em 1989? Não estou falando dos meus primos, estou perguntando dela, dos sentidos dela, dos esforços depreendidos por ela? Hoje, a noitinha, quando devolvi o carro dela emprestado, ela estava sentada, meio feia, meio bonita, com um pijama de bolinhas insinuando que se levantara diretamente do leito acamada... estava lá, o melhor e mais radiante que seu organismo lhe permitiria estar. Aliás, já recuperando o senso de obrigação, comando, diligência, força. Um terço da tireóide dela, uma glândula hormonal, seccionada. Eu acho tão, tão, tão maluco, alguém, nesse planeta, se permitir intervir, jogar fora, uma glândula, um pedaço do corpo. Não porque o corpo seja sagrado. Mas de quem é mesmo a mão que tira? E a mão de quem colocou - como fica!? Como fica o indivíduo concreto, além das nossas certezas de tirar e colocar algo? Ainda estou completamente congelado com o olhar da psicóloga, da escola. Eu nunca vi um olhar tão bonito, tão profissional, tão inteiro. Gente, era um olhar de compaixão, emprestado ao corpo de uma profissional de uma instituição educacional. Ela me dizia que estava preocupava, mesmo, com o cliente que assisto. Que olhar e postura incrível: séria e comprometida. Quer dizer que o olhar dela é superável de todas as dificuldades? Acho que não, e acho que ela própria também enxerga que não. Há limites. Muitos, muitos. Lidemos, pois, com a vida e suas contigências. Fico pensando se há dignidade possível nas vidas e suas contingências, se é possível vivencia-las de uma maneira nobre, bonita, significativa? Hoje, por exemplo, enquanto Dorje era, literalmente, manipulado para a radiografia da coluna dele (não era na clínica SOS! não era com a médica que falava, anteriormente!), eu, por trás de uma porta de chumbo, via, apenas, um "animal", preso em suas duas patas, como um boi que pode ser facilmente esquartejado... pela luz, pela luz violenta, radiativa, da "chapa". Três dosagens de luz química, três chapas, três recortes da coluna e seus detalhes vertebrais. Depois do Dorje, trouxeram uma onça, agarrada por três homens fortes. Igualmente, um pedaço de carne com o qual se faz uma intervenção. Intervenção cuidadosa, atenta, respeitosa, mas, ainda assim, intervenção na carne. E ponto. Não há símbolo, não há subjetividade, não há pano de fundo. Imagino que deva ter sido alguma coisa semelhante com a minha tia, certo? Um pedaço de carne branca. Eu me sinto meio que violentado por essa concepção pré-histórica. (Eu queria saber se a intervenção não poderia ser feita ao nível da noosfera, e não, necessariamente, da biosfera?) Não sei, exatamente, qual a base e fundamento filosófico dessa intervenção na carne, porém, certamente, não é Pragmatista. Alí, na manipulação dos corpos, suas partes e sintomas, não há intervenção na experiência. É pura direção e objetivo. A experiência, quanto muito, é considerada tangencialmente. (Por exemplo, durante a radiografia e minha explícita indignação, me perguntaram o significado tibetano para o nome do Dorje... eu gostaria de ter sido capaz de retribuir a futilidade protocolar da gentileza e do interesse superficial pela minha pessoa com uma menção de protesto...) Se a experiência que alcança o Organismo do cliente, da minha tia e do Dorje não cabem na mesa de análises, lamento, não é experiencialmente Pragmatista. Eu não sei, e talvez Hélton possa me dizer, o que acontece com o Self quando se injeta anestésico cirúrgico... eu sei que, no que tange a dimensão experiencial, os processos de significação da vida jamais cessaram. Em última análise, não há Organismo, há, apenas, carnes e um emaranhado de discursos e poder. Triste, não? Vou tomar chá para ungir o meu juízo. Fiquei muito feliz com a notícia que o testamento do Clodovil prevê a criação de uma instituição para órfãs. (O Clodovil dizia que nós apenas nascemos, e jamais morreremos...) Fiquei feliz também porque os índios regressaram à corte do STF para lutar por Raposo Tavares. Pensei que, talvez, com a Olivetti do meu avô, eu pudesse escrever uma história sem dor para o Dorje. Não vai mudar nada - nem o Dorje, nem o meu Pragmatismo. Porém, o simples fato de minha Organicidade convergir esforços e energia para isso, algo nessa ressoa com tudo ademais, e o próprio Dorje é afetado. Nesse sentido, amar é também sonhar, e sonhar é também realizar. Em algum sentido, sim.

Experiência #010 (continuação I...)

... Não se passou um dia. O relógio, o sol e a chuva parecem os mesmos, ainda os mesmos. Ainda estou dentro do Hospital, apesar dos sapatos, das roupas, do chão, dos ares serem outros. Outros. Queria compartilhar alguns lampejos de ontem-que-ainda-é-hoje, percepções de mim, inseridas no mesmo campo aberto, adentrado, vivenciado. Fiquei olhando minha tia, deitada, meio tonta. A televisão estava ligada, "Bom Dia Brasil" - péssimas notícias do Brasil, péssimas, ao meu ver, para classificar a alvorada como "boa", péssias informações para ensejar um bom dia. Minha cabeça estava ficando meio tonta, olhando para cima, e vendo as reportagens. Me pego, nesse ziguezague, entre sustentar a noticiário e não suportar a tontura, e vejo, ao meu lado, minha tia, de olhos fechados. Não sei se alguma coisa alí poderia ser real, ou se ainda estou nos ciclones da vertigem. Todos os profissionais, funcionários do Hospital, que adentraram a sala me relataram que, ontem, se sucedeu um dilúvio, sem fim. Não escutei, não percebi. Acho que o mundo tinha acabado. Me lembrei, em 1988, eu tinha 6 anos, sentado, na cama da minha tia, ajudando ela a se levantar, ela no pós-operatório do seu parto-cesariana. Que absurdo, distante, lembrar disso, e lembrar que o quarto do Hospital, ontem, que estava na penumbra dos meus 6 anos (há 21 anos atrás... acho que o tempo não passou!). Algumas vertigens (semelhantes) do medo-empático (do outro, do ser amado, que sofre e tem medo). Olhos fechados, e corpo tão frágil, tão vulnerável... ali, completamente refém da benesse de um organismo terceiro - eventualmente, um organismo que se considere estimado e amado. Não sei se isso ajuda, reconforta... mas sei que era, apenas, um corpo frágil. Lembrei da minha própria tontura, três semanas atrás, e o quão rapidamente, por um simples agravo, podemos deixar de sermos aquilo que reconhecemos ser, acreditar, expressar. Quero dizer, por exemplo, minha tia - e para quem a conhece de tão próximo como eu - deitada, cançada e tonta, sem poder, se quer, levantar sozinha. Logo minha tia? Não porque ela seja minha parente, mas, para quem a conhece, frequentemente, gritando, brigando, lutando, desafiando... sempre tão "certa" e metódica, e ontem, o sempre, já não era o mesmo. Agora, na casa dela, já instalada, escuto dela, pós-operada, cobrando velocidades e atitudes do seu filho mais velho (o mesmo que nasceu em 1988), que deveria ir trabalhar, não chegar atrasado no estágio. De quê é mesmo que adianta, "sempre" tão forte, tão firme, tão resoluta, tão direta, tão inteira de algo que, tão passageiramente, escapa-lhe as mãos, como areia ao vento das ampulhetas... nada restava, ali, naqueles instantes, da minha tia-Feitosa, apenas, uma mulher frágil e vulnerável, como qualquer outra que conheci, de sentimentos e soluços emprestados aos rostos dos meus clientes, como eu próprio, também, frágil como me conheço e me enxergo, humanamente dependente de tantas coisas, tantos processos e coincidências da vida. Eu não sei qual é a graça dessa batalha que ela trava pelas crenças e vestígios de certezas dela (herança, hipoteca, hipóteses?), eu não sei, em mim mesmo, a quê isso tudo serve. Clodovil morreu. Já senti uma dor de tristeza e de partida, durante a tarde, ao ler sobre o estado grave na UTI, pós Acidente Vascular Cerebral e parada-cardíaca. Morreu. Eu apreciava, imensamente, a velhice safa e desenrolada do Clodovil, uma alegria inteligente, uma generosidade de sensibilidade e elegância. Era um tipo de moda espiritual. Pois o Clodovil deixou de existir aos meus olhos... hoje, no Jornal do Meio-Dia, na Globo, escuto sobre o velório, e me pergunto se o Clodovil teve a oportunidade de se despedir. Bem, eu não tive. Ainda não chorei dele. Chance, pelo menos, de agradecer por conseguir, de alguma maneira, vislumbrar tanto de mim, nele: da sua coragem, de sua ousadia, e de uma capacidade combativa, de enfrentamento do absurdo e do caos. Outra geração, e, ainda assim, os problemas e desafios tão meus, tão contemporâneos. As agulhas do Clodovil valeram por sua partida, subta ou não!? Não tenho como avaliar, nem sobre ele, quanto menos sobre a minha tia. Posso tentar dizer por mim mesmo. E chego a conclusão que, na minha experiência, meus esforços ilusórios, múltiplos e diluídos, parecem não valer muita coisa além da minha própria legitimidade e liberdade de buscar exercê-los que, por sua vez, não valem em si mesmos. É isso. O quê sobra e escapa de sentido (pessoal) à morte, à tudo que a morte leva? O que sobra, de único meu, à força da morte? (Hélton, se houvesse um Self próprio, algo mínimo e independente, que cercanias e capacidades próprias, ela deveria conter algo próprio, que, eventualmente, não estivesse sujeito à ventania da morte... o Self também é levado, e não precisa nem a morte se aproximar - basta cumprimentar, de longe. A morte acena, e o Self, como gelo exposto à sol, derrete-se, fulminantemente, no colapso dos seus adereços). Os vestidos do Clodovil, minha saudade, as lembranças das brigas e cobranças bem-intencionadas da minha tia, o quê fica e a quê preço? Uma diferença entre o Existencialismo e o Pragmatismo é que, de um ponto de vista Organísmico-Experiencial, minha experiência não existe sozinha, não existe fora de um contexto, e não tem um valor independente por si, em si e para si. Minha experiência não precede a vida. (Humildade experiencial ante o mistério? Reconhecimento de que a expressão humana não é a medida para compreensão do universo e seus mistérios?) E, no dia em que eu me convencer que eu estou preso na existência, (posto que a existência antecede a essência e minha experiência), de que não haverá, portanto, espaço e ar e vida além dos indivíduos e suas histórias, e além do meu próprio cansaço, então, não há mais Organismos, Vidas, Interrelações, Redes de Crescimento... Então, não há Pragmatismo e abertura, haveria, apenas, a "existência", um sistema fechado em seu circuito imprevisível de desdobramentos. (Fechado, ainda que criativamente fechado!) Parece muito, porém, aos meus olhos, é pouco demais. Eu preciso, experiencialmente, ter a capacidade de navegar numa vida que se recria, inclusive, além dos dramas humanos. É daqui, de onde estou como parte e expressão da vida mais ampla e presente, que retiro oxigênio quando a existência, em seus desmantelos e delírios, enxerga que não há caminho e alternativa outra se não permanecer nela e em suas narrativas. Parece-me que a diferença prática, e que me coloca à favor do Pragmatismo, é uma adesão pela surpresa, pelo inesperado, pelo improvável, às vezes, literalmente (!), pelo impossível. Simplesmente, a Morada da Incerteza. Porque a rigor, Pragmatistas e seus mergulhos experienciais, não acreditam seja na vitória, seja na derrota, seja na conquista, seja no fracasso. Pragmatistas não podem dar-se ao luxo de "antecipar". (Porque não existe experiência antecipada ou postergada). O esforço gigantesco do Pragmatismo não é o de, justamente, contrapondo-se às Filosofias Continentais imobilistas do Velho-Mundo, refratar um projeto de verdade que seja sensível, ou que seja racional? Se não há com o "quê" se agarrar e profetizar, resta-nos, v...i...v...e...r..., e buscar sermos e encarnarmos o máximo do que nos significa estarmos vivos e inteiros. Abertura à vida, e não apenas a uma ou outra dimensão particular do viver humano (como, por exemplo, a existência). A rigor, a experiência não pertence às fronteiras da existência, ela, experiência, oscila entre o nascer e o morrer que caracteriza a vida. Pois é: não acho que faça sentido lutar pelas atitudes e crenças do Self, fazer, por exemplo, no caso da minha tia, com quê o Organismo dela lute, lute, lute para manter tudo que o Self dela acredita, manter isso intacto - v.g, cobrar do flho dela a maldita responsabilidade que o nefasto Self dela acredita ser necessário. Ela morre, ou, não morrendo, algo acontece, que muda a capacidade dela de sustentar aquele Self, valores e posturas específicas, e tudo que ficou para trás foi, apenas, rastro de um Self que, uma vez nunca existindo como realidade-própria, agora foi silenciado pela vida. (Vou responder Hélton em outra postagem, à noite... Não faz sentido nenhum, para mim, facilitar Selves... e que isso não tem a ver com facilitação de Regulação, Atualização e Formatividade, ainda que você inclua, na sua reflexão, o fato de que o Self é também um desdobramento e um atributo emergente da vida e das Tendências. Mas não acho que uma "parte" da vida, o Self, possa ser tomada como objetivo de facilitação da vida... tanto quanto não se pode tomar como referência um sentimento, particular, como representatito da totalidade de sentimentos do Organismo).

terça-feira, 17 de março de 2009

Experiência #010

Hoje, acordei de madrugada, e Fortaleza estava sob o véu espesso da neblina. Cinco e qualquer coisa, no relógio, sigo no taxi. Elevador, sobe e desce, chave de um carro, estou de volta, novamente à estrada cinza, com o sol camuflado pela água. Chego ao Hospital do Câncer, minha tia está recuperando-se de uma cirurgia na tireóide. Dia no hospital. Minha energia está baixa, durmo, durmo, alternando-me entre serviços pequenos (conversas amenas, copo de água, lembranças, pegar mamão, profissões, abrir janela, família, ligar televisão, curiosidades, abrir porta do banheiro, chamar enfermeira... receber enfermeira, auxiliares de enfermagem - uma, bom dia; duas, pois não; três, certamente; quatro, à vontade... auxiliares de limpeza, o médico-residente de plantão, auxiliares, uma, duas, acender luz do quarto, telefone, telefone, fechar a luz do céu). Durmo, durmo, durmo. Será que eu sonhei? O médico faz uma muda dos curativos, na altura da garganta... fala da sua mãe ("ela é teimosa") enquanto retira uma fita branca, de dentro da garganta, algo que tinha uma textura visivelmente plástica (estou equivocado!). Sofazinho estreito. Minha tia está meio que tonta: aplicação de um remédio, vômitos, soro, trocar de roupa, pedir alta. Da cama para a cadeira. Dirigir de volta para casa - com ela, tonta, dentro do carro. Eu, tonto com ela. Estranho - chuvinha fina, hora do rush. Sinais. Ela atravessa a porta da cozinha, não fala com ninguém, meio que joga suas roupas, sem atenção mas ainda delicadamente... entrega-se imediatamente à cama, lençol fino, um tchau silencioso. Ônibus, caminho de volta: espero 30, 40minutos? Chego ao terminal, 15, 20minutos depois? Fila, vazia - que bom, que ruim!? Espero a próxima condução, 40, 50minutos? Sigo, cheiro de perfume barato, sufocado pelo vizinho de banco e um ônibus lotado. 10 minutos de caminhada, estou pensando várias coisas. Banca de revista. Horário de trabalho. Duas horas depois, chego em casa. Dorje, meu cãozinho - ainda doente. Céu? Ainda cinza. Li o jornal - enfadonho. Eu? Ainda por aqui. Ainda, por, aqui... Qual a diferença entre isso, e um existencialista? Entre o enfrentamento do belo e do trágico com as espadas da dignidade? Gotinhas, gotinhas oscilantes, vazam pelos dutos que se mesclam ao sangue da carne viva. Tenho um texto do Átila Montenegro, à minha frente, um texto que gosto muito, lá (vocês acreditam em mim?), está escrito: "As goteiras pingam no vácuo. Se tudo desabasse e não restasse mais eu, então só haveria vida... energia./ Efeitos colaterais". Sentado, do lado de fora do quarto, enquanto as mulheres exercitam a intimidade do corpo feminino (ajudar a trocar de roupas, calcinhas etc), lembro-me que meu avô também foi operado naquele mesmo Hospital, lembro-me de duas visitas, rápidas, que fiz a ele, ainda na UTI, lembro do quarto... dou-me conta que não são apenas lembranças, recupero a razão, e enxergo ao meu redor: talvez, 10h da manhã, ora para que meu organismo acorde, e vejo pessoas rezando, outras conversando, outras comendo, outras transitando... posso ouvir lágrimas? Vejo, também, uma estátua piedosa. Estou numa pracinha de convivência, com mesinhas, comidinhas. Sinto-me absorvido com tantas demandas e pedidos de viva, abro-me e respiro, apenas e tão somente. Volto-me, então... qual a diferença entre o Existencialista e o Pragmatista, se, aparentemente em comum, ambos não fujimos desse encontro com nós mesmos, se ambos, eventualmente no campo da Psicologia, poderíamos dizer-nos, nós dois, Humanistas? Como Pragmatista, acredito que o significado que atribuo a essa experiência é diverso do significado, dos enquadramentos, dos postulados, crenças, conceitos, com os quais um Existencialista manejaria as mesmas "realidades". A ação, por si, ou em si, não basta para abalizar-nos acerca da natureza da intervenção - é preciso auscultar a experiência implícita. (Empatia, por Empatia, não é uma prerrogativa exclusiva dos Humanistas - veja na Livraria Cultura, e conclua por si mesmo). Eu gostaria de, em casos como esse, ao sentir o que sinto, ao navegar onde navego, gostaria de acreditar que há outro lugar melhor para irmos. Gostaria de acreditar que a minha experiência pudesse estar livre da concretude da vida, da Organicidade, do mundo... porém, para sê-la, tão experiencialmente quanto possível, é preciso que me mantenha com os pés tão vivos quanto possível, tão nesse chão quanto possível. E, daqui, fazer o moinho girar com o vento que não é bem meu... nem o moinho, nem eu. Agora, pãezinhos e reunião.

(...)

A Silvinha me falou, há pouco (pouquíssimo tempo), se a questão da Aceitação Positiva Incondicional não poderia ajudar-nos a adentrar o "mundo louco" sem destruir nossas expressões genuínas de vida... A princípio, tem a ver sim; mas não sei se vou conseguir elaborar sobre isso, agora, estando tão fraco. A idéia básica de Aceitação Positiva Incondicional é que ela reconhece as sintonias e ressonâncias entre o universo e a vida, a partir de uma legitimidade experiencial. Em outras palavras, a Aceitação possibilita, em mim, um espaço de fluxo que esteja afinado com os movimentos que não se excluem no meu Organismo. Para que seja uma atitude possível, é preciso uma boa, boa dose de abertura - e acho que de ternura, como um processo decorrente.

segunda-feira, 16 de março de 2009

Experiência #009 (continuação II...)


PPS: (considerações acerca dos comentários do Hélton, aos meus comentários)... se o seu pragmatismo-profético é, ao mesmo tempo, uma "disponibilidade plural", você está querendo me dizer que, em sendo experiência, ele "apenas" não é obrigado a conter "toda" a experiência do Universo - e que, portanto, você não se vê inclinado a acatar, reconhecer, mergulhar ou navegar, por exemplo, na experiência humana e legítima do Poder e da Política? Que você a reconhece (por exemplo, a dimensão do poder, da tecnologia... como dimensões possíveis e legítimas mas que elas não "fazem" parte de você?

Se for isso, então, (uau!), temos uma boa discussão epistemológica para travar, qual seja, que uma vez experiencial, a experiência singular de um Organismo (o meu, o seu... respectivamente) não inclui, necessariamente, a experiência Organísmica do outro (da sua, da minha... respectivamente), e que, mais absurdo ainda (para mim, pelo menos), é conceber que, na experiência, existe algo separado ou fragmentado, a princípio, entre o "seu" e o "meu" Organismo - como se as Organicidades não fossem, apenas, classificações didáticas e intangíveis, de um mesmo fenômeno de composição, arquitetura, expressão e comunicação da vida, da vida em rede/grid. Estou dizendo porque, se eu estiver compreendendo, corretamente, seu argumento, você está defendendo que existe algo de "seu" e algo de "meu", em termos experienciais, no que tange a "sua" e a "minha" Organicidade, e que tais dimensões não são, a princípio, parte de mim e parte de você - e que isso implica, por conseguinte, que você/e o "seu" self-organismo não é parte ou coisa-mesma na composição e interferência do meu organismo. Francamente, essa lógica não faz sentido nenhum para mim, porque ela vai de encontro ao esforço, do próprio Rogers, inclusive, para superar essa noção fragmentada de um self, do seu self, do meu self, para pensar o Organismo, enquanto uma tecitura particular de camadas e arranjos da vida. Nada, em mim, por exemplo, me leva a crer que as suas experiências, ainda que distantes de mim, são tão minhas quanto suas, e vice-versa, na medida em que nos constituímos da mesma poeira que perfaz a natureza da vida e das estrelas. Que, em último caso, a diferença entre eu e você, e qualquer outra expressão da vida, é, tão somente, os acessos e significações experienciais que eu porto, que eu vivenciei, e você não, e vice-versa. Mas que, fundamentalmente, quando você fala, quando você compartilha de "si", é também, e inevitavelmente, irrefutavelmente, de mim que você fala, de uma camada comum da vida, que me está acessível, disponível a mim, à você, aos demais organismos, que às vezes, inclusive, me faz sentido sem que jamais a tenha vivenciado diretamente.

E vou mais além, se Regulação, Atualização, Formatividade, são aspectos comuns da vida que me alcançam e te alcançam, a única diferença entre eu e você, enquanto expressões semelhantemente Humanas, com fluxos Organísmicos e Humanos, são nossos Ideais de Eu e Condições de Valia - que, talvez, não sejam suficientes para nos caracterizar como entes diferentes. Parece-me que, do ponto de vista experiencial, nossa única diferença é a gravidade e profundidade dos nossos delírios e devaneios... porquanto, ainda que nos regulemos de maneiras diferentes na vida, nossos Organismos sofrem os mesmos processos vitais, nossas expressões partem de uma mesma natureza de vida... e nos diferenciamos, talvez, em nossas crenças, nossas direções incongruentes. Será que só estamos juntos na congruência e no fluxo experiencial? Será que é no fluxo que nos reconhecemos parte da mesma vida, parte de um mesmo encontro?

Se você estiver, mesmo, considerando a "Si-Mesmo" enquanto Self, e não como Organismo, então sua discussão me faz sentido, na medida em que parece ser coerente. Entretando, em sendo assim, eu pergunto: tratando-se de um Self, que está separado de outros Selves (por exemplo, separado e diferenciado de mim), o máximo que o Self do terapeuta permitiria chegar do Self do cliente é numa aproximação do tipo "como se..." fosse a experiência do outro... nunca, por um princípio de coerência epistemológica e metodológica, o Self poderia adentrar a "morada experiencial" do outro (in-dwelling) e, tão menos, poderia vivenciar, em Si, algo que é do outro... retomo, portanto, a linha de partida: se o argumento de que as experiências de um e outro são categorias e conteúdos, linhas de acesso experiencial e possibilidades de significação diferenciadas, se o que eu sinto e falo não tem nada a ver com você, e vice-versa, então, a tentativa de escutar e ressoar com o outro seria, também, uma modulação incongruente - razão simples: estar com o outro seria buscar adentrar algo que não é seu, que não é vivenciado por si mesmo, e, portanto, significaria ocupar, ainda que momentaneamente, um lugar incoerente com seu próprio funcionamento organísmico. Nesse caso, por absurdo, parece-me razoável dizer que, se a minha experiência organísmica não é, apenas, um arranjo formativo de um mesmo fluxo de vida, arranjo meramente diferenciado do seu, contudo, ainda assim, um arranjo de um mesmo fluxo; se esse não for o caso, ou você está supondo que faz sentido para o seu Self e o conjunto das suas experiências particulares/privadas absterem-se dos seus orbitais e significações, ou, então, você está considerando que é possível, concomitantemente, estar inteiro e experenciar dois lugares ao mesmo tempo, estaria dizendo, por inferência, que a Organicidade é, de fato, uma "disponibilidade plural", que o Organismo, tal qual o Universo (ambos categorias da vida), é um sistema aberto de realidades paralelas, quem sabe concêntricas ou, meramente, interligadas...

Pelo que posso compreender de você, talvez essa última direção seja mais apropriada para seu pensamento do que a primeira. Ainda assim, extremamente mobilizadora para mim. Quem sabe, Hélton, esse não é o "ponto", a nova dança, a nova valsa, hum!? Uma compreensão, possível, que o que eu sou, enquanto tecitura Organísmica, são multifatores e multinúcleos, multiuniversos e multirealidades, multidimensões experienciais, intrincadas numa mesma experiência que nos serve como pórtico - de maneira que tenho a sensação de acompanhar a sua experiência, mas ela não pode estar inteiramente disponível, para mim, do lócus organísmico de onde minha expressão (falada), agora, é anunciada.

...

Você já assistiu "Vitus", o filme? Recebi um e-mail, ontem, a noitinha, de uma amiga, dizendo: "ontem assisti um filme que me lembrou você. Não só o protagonista lembra você, como se parece com você. O nome do filme é VITUS (...) está em cartaz, em Sampa, entrou nessa semana. Achei lindo o filme (...) além de ser parecido com o Vitus, o Teo Gheorghiu (o Vitus adolescente) é a tua cara? Principalmente de perfil..."

Lembrei desse filme para tentar fechar com você? Não apenas a minha experiência é a do Vitus, como a do Vitus é a sua, e a sua é a dele, que é, por sua vez, de alguém mais também!?

http://www.youtube.com/watch?v=JfAZ0nBV1Zg

(Claro, é um filme em alemão - tinha que ser! É desse filme a imagem que ilustra a abertura da mensagem... sou eu!? é uma parte de mim? não tem nada a ver comigo? e com você?)

domingo, 15 de março de 2009

Experiência #009 (continuação I...)

Li os comentários do Helton Thyers, à mensagem #009. Fiquei pensando em várias posições, observando várias reações surgirem dentro mim – fiquei, mesmo, é com vontade de conversar, e não, apenas, manter a troca de correspondências (eletrônicas). Como o diálogo, por enquanto, está limitado a essa ferramenta tecnológica, gostaria de compartilhar uma mensagem breve.


Lendo seus parágrafos, ocorreu-me a sensação de que o “Pragmatismo”, segundo a maneira com a qual seus sentimentos organizaram as idéias e argumentos, seria qualquer coisa que sufoca ou proíbe ou reduz ou tangencia o mistério, as coisas bonitas, as experiências que amamos. Eu acho que, em parte, é verdade – ainda que não pela mesma justificativa que está implícita na sua mensagem. Parece-me que, entre o Profeta – que é o lugar invocado como seu, a partir da sua experiência – e o Pragmatista uma diferença significativa é que o segundo, por seus postulados de base, paradigmas e teorias, elege como objeto da reflexão e recorte da intervenção o fluxo presente que alcança seu Organismo. Em outras palavras, é na experiência ou na ação de fazer-se inscrito no fluxo mais presente, de ressoar e implicar-se de movimento da vida, o Pragmatista abdica, a si mesmo e aos processos de sua subjetividade, de uma margem larga de espelhamento dilatado para fatos e escolhas restritas, ainda que se trate de fatos ou vivências carregadas de intensidade afetiva. Se a vida está no seu fluir de conexões, fusões, diferenciações, alinhamentos, superações, movimentações, o objeto-mesmo da atenção do Pragmatista é o seu trânsito experiencial singular nesse córrego de encontros – às vezes, de confrontos, outras de colizões. Aproximações, alianças em certas ocasiões, outras, rupturas, diferenciações. Entre reservas da vida que nascem e morrem, entre partes orgânicas e inorgânicas. Entre homens, também entre elementos da humanidade.


Estou dizendo isso, Helton, porque soa, para mim, que implícita na sua afirmação subjaz um senso difuso de que nós, Pragmatistas, haveríamos de estar em um lugar – um certo lugar – quando poderíamos – e, talvez, traríamos um bem maior, uma paz mais justa – estar em outro. Se é que verdade que advogamos nossa liberdade para movimentação, porque não, afinal, movimentar-se para um lugar de mais ternura, de mais amor, de mais redenção? Acho que esse é um dos pontos. Nós, Pragmatistas, escolhemos, como exercício da nossa liberdade, trazermos o máximo de nós mesmos, nosso potencial e nossa crítica, para o único lugar onde poderíamos estar, qual seja, o lugar onde existimos, o lugar onde estamos, o lugar onde somos e agimos. Nós estamos, recorrentemente, na medida da nossa força e dentro das possibilidades, contingências e cansaços (às vezes, também de desistências), retornando cada porção fortuita de nós mesmos, negligenciada, esquecida, olvidada, fugitiva, indiferenciada, novamente e eternamente, mais e mais de nós mesmos, nossos desafios e nossos potenciais, convergentes para onde estamos e para onde somos, para onde nos encontramos e para onde existimos. Equivocadamente, ao meu ver, confundem-nos, Pragmatistas, com o tecnicismo banal do Imediatismo, do Utilitarismo, da intransigência do superficial, da adesão ao prático e ao comércio simples. Não é verdade, não é isso. Pela nossa experiência, não pode ser verdade! Especialmente, quando nos referimos aos Pragmatistas-Humanistas (o meu caso, por exemplo). Se, por um lado, a atitude Pragmatista atualiza-se na experiência singular humana em sua tangibilidade relacional – e, por isso mesmo, ela já expressa uma postura do sempre-novo que refrata a poeira do passado e refuta as promessas do futuro, em substituição às interpelações do presente –, por outro lado, a tradição dos Humanistas, e, mais particularmente, do Humanismo em Psicologia, é a própria militância da resistência, da afirmação da liberdade, da manifestação do crescimento, da busca pela realização.


Quer isso implicar, conseqüentemente, que não estamos “alhures” (à guisa das elucubrações racionais, das direções sensíveis e tangíveis, das profecias espirituais) não porque delas e dos seus campos e enunciados nos afastamos, mas, tão somente, resguardamos a distância saudável que separa nossa experiência visceral e presentificada do abismo de tudo que não poderia, ainda, adentrar uma significabilidade experiencial, corporificada, tangível e mediada pelas expressões de vida que nos habitam. (Esse é o ponto?) O outro-lugar só nos seria possível e cabível se houvéssemos, por absurdo, de localizar e nos posicionarmos na outra-experiência, na bifurcação experiencial, por hipótese, entre uma faceta da experiência total que somos e sua manifestação consangüínea, em outro universo experiencial, de caráter holográfico, que, ao mesmo tempo, representasse uma inteireza organísmica possível de mútua-existência e relação com a inteireza organísmica anterior. Como, até o presente, não descobrimos (!?) ser possível haver dois lugares genuínos de inteireza e presença para um mesmo Organismo, então, estamos inclinados a ocupar, o máximo e com o melhor de nós mesmos, o lugar de experiência que nos é possível identificar, reconhecer e pertencer, um lugar único de sermos nós mesmos e atualizarmos, ancorarmos, um potencial para expressarmos mais de nossas ressonâncias pessoais. Qualquer outro lugar, geografia, justificativas e afetividades que, muito embora nos magnetizem, não é coisa outra se não delírio e sonho senil, projeção da vida que não pode ser na experiência, mas, apenas, na tradução da ilusão e do bem-querer. Não quer isso dizer, ao contrário, que nessa territorialidade experiencial, concreta, onde estamos e somos, onde agimos e avançamos, que, ali – ou melhor, “aqui”, de onde falo, de onde me movo – não exista espaço formal e fendas ocasionais para que o maravilhamento sideral adentre e expresse suas nuances. Sim, você está corretíssimo, ao pontuar, sensível e fraternalmente, que só estou falando de Política, de Poder, ou de qualquer outro tema (Instituições, Trabalho, Dinheiro, Democracia...), porque não me abstenho – exaustivamente buscar? – de manter um fluxo de experiência e de transcendência fluindo nesse chão feito “concreto” pelo presente, com o qual lidamos a cada novo instante. Não posso deixar, como Pragmatista & Humanista, de me confrontar com os fluxos, demandas e necessidades da experiência humana diária – que, para bem ou mal – inclui essas dimensões – estranhas ou familiares – da tecnologia, por exemplo. Seria curioso, talvez, observar o contrário, qual seja, de um Pragmatista não se reconhecer no debate desses fenômenos que estão infiltrados em nossas veias e subjetividades, mais, talvez, do que o oxigênio que respiramos...


Eu acredito que uma parte de mim gostaria de transportar-se, como se faz no SecondLife, de um território para outro, e, por exemplo, ser capaz de vislumbrar a possibilidade de encarnar um senso de inteireza experiencial, como vivencio “aqui”, e que fosse semelhantemente manifesta “acolá”, substituindo-se, outrossim, os embates “daqui” pelas “benesses” de “lá”. Contudo... meus dias de casulos chegaram ao final, a vida expulsou-me dos guetos, e o universo, o meu credor, exige que eu restitua a energia dos investimentos sucessivos, que recebi nas miríades dos encontros... então, fui chamado, por mim mesmo e pelo entorno de orbitais, expressões diversas associadas, a estar, apenas, em um lugar onde estou, onde posso estar por inteiro, e, eventualmente, ressoar por inteiro – convergir para o movimento do tecido-grid. (É isso, é esse o ponto!? Não sei, mas tive que vestir as roupas especiais que você referiu-se, roupas de astronauta – se é o que você quer saber; roupas de mergulho, diria o B.Aboim.)