quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

youth

JUVENTUDES EM (NOSSO) SOCORRO
André Feitosa

Há quem justifique que no conduzir da vida humana, desprovido de certo “princípio de juventude”, não se encontra a superação para o necessário do dia a dia, sem o qual seríamos reduzidos à escassez de sentidos. Se já não nos convencemos das equações sociais que Europa e América do Norte produziram em suas respectivas geografias do conhecimento (ver mais no trabalho de Boaventura de Souza Santos), também a reinvenção do conceito e função das juventudes podem gerar novos significados para as tramas contemporâneas. Penso, como ilustração, em comportamentos na fronteira da suspensão dos cânones da saúde e certa suposição de violência autodirigida. Há não muito tempo, Ernst Bloch, notável inspirador aos movimentos estudantis em 1968, pressentia que os sonhos da juventude avançam o mundo pelas mãos da esperança: apenas na ousadia dessa fruição combativa do real e do concreto haveria espaço de outro futuro, portanto, de outra imaginação. Aos jovens, é vislumbrada a fantasia de criar outros mundos, de transformar a sensibilidade do que partilhamos como a vida tida em comum. Os espectros ampliados de experiências, percepções, fundamentalmente de sonhos e desejos “jovens” em seus horizontes buscados, irrompem e desafiam a ordem posta desse momento e instituições do mundo. Não sem razão, temos enorme medo, antecipando toda sorte de moral e coerções àqueles acometidos por tais afetos juvenis. Mais recentemente, como também discute o psicanalista Contardo Calligaris, observam-se diferentes frentes de poder-clínico que pretendem neutralizar (leia-se, diagnosticar e, pretensamente, medicar) essa condição do “devaneio” e do “desvario”: entre quem distribui sonhos pelo mundo convertidos à condição sociopolítica de portadores de um transtorno. Sejam os corpos que explodem com novos hormônios, seja naqueles que adormecem para as sensações amadurecidas no passado, essa juventude sazonal que vem e vai, entre estações da adolescência e crises de meia idade, geralmente acompanha novas experimentações de enlace e pertencimento ao outro: um rastro eloquente de abertura, de confiança, de capacidade de assumir outros riscos. Juventude, mais que resistência, é potência indefinida, é inventividade, é contradição, é paradoxo. Juventude é o contraditório para o assimilado e o estabilizado. Juventude, sendo o movimento que descaracteriza uma materialização de existir, é também um dispositivo que transita com a finitude: curiosamente, a juventude é a morte simbólica de inúmeros processos. Aproximar-se do jovem é colocar-se na proximidade do signo da impermanência, da transitoriedade, da contaminação, da passagem que não está submetida ao controle: do jogo e do aspecto lúdico nas travessias com a morte. Ora, disseram-nos que apenas na alma do jovem tudo é possível – somente na bravura das transformações e do contínuo investimento no futuro, há movimento – posto que há ruído e resíduo. Arthur Rimbaud, um desses poetas das convulsões e contradições – por isso mesmo apaixonante –, lembrou-nos que “la seule chose insupportable, c'est que rien n'est supportable”. Juventude é isso-infinito, o insuportável de que nada é por si mesmo suportável. Longe das convenções que mutila a frase como liberdade banal e inconsequência, apenas uma relação franca com a vida reconheceria o verdadeiro drama de quem não esbarra em nenhuma verdade última – o sublime, ou a desgraça de uma vida que por inteiro aguça a invenção do seu próprio destino frágil e inseguro, que se realiza apenas na imanência do acontecimento. Juventude é essa experiência insuportável, sobretudo para quem a vive no seu maior absurdo e devastação, seja do desenvolvimento etário (e não saber onde localizar respostas) ou do experiencial adulto (por já saber que não haverá respostas pacificadoras). A juventude, nesse prisma, não é o que somente tende ao poderia-tudo, contudo, entendida como a fugacidade do que não suporta-nada, daquela condição que não circunscreve a vida às reduções historicamente estabelecidas, a juventude só pode ser anti-maturidade e anti-psiquismo. Nessa esfera outra que tematiza o “bom” e o “correto” já contratado nos costumes, ensina-nos Abraham Maslow: “Para quem só sabe usar martelo, todo problema é um prego”. Nossa juventude não é dispositivo que assenta e sustentar madeira putrefa de conhecimento, nossa juventude é transfiguração de um substrato indizível em possibilidades ainda não-humanas.

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quarta-feira, 14 de novembro de 2012

terceiro

se este impulso demorar o tempo da volta, 
fazemos um Terceiro nosso: 
você quem é capaz de parir; Eu, apenas paris.

terça-feira, 18 de setembro de 2012

Seminario


RESUMO:

Trata-se de uma discussão sobre a arte do Butô, concepção estética japonesa do pós Segunda Guerra que estabeleceu interfaces com o teatro, a dança, o cinema e a música do século XX. O Seminário é organizado pelo Teatro MiMO com o Eixo de Estética do Curso de Psicologia da FANOR. A abertura será realizada pelo Prof. Daniel Lins retomando experiências do Butô na Cidade de Fortaleza, desde o final da década de 1990, com o aprofundamento de conceitos importantes na Filosofia Francesa. Dirige-se a acadêmicos e artistas de modo especial, pesquisadores, profissionais e estudantes que dialogam na via da ciência e da arte, com abertura a todos os interessados na cultura japonesa para o corpo. / Ação de formação continuada no Eixo de Estética da Ênfase Curricular em Psicologia, Instituições e Culturas, prosseguindo a Residência Artística em Butô, anteriormente realizada no mês de maio de 2012, na FANOR, com participação de acadêmicos e artistas.

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I SEMINÁRIO ESTÉTICAS E SOMBRAS:

EXPERIMENTAÇÕES PÓS-BUTOH NO CEARÁ (15h/atv)

25 e 26 de setembro de 2012 (terça e quarta) – Fortaleza, Ceará

  
Realização do Teatro MiMO & do Curso de Psicologia da FANOR/DeVry Brasil (Eixo Estética/Ênfase Curricular de Psicologia, Instituições e Culturas); Apoio do Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura e do Grupo Aprendizes em Troca.

Atividade gratuita, inscrições no local e certificados à participação integral.

Informações: tomazdeaquino1@yahoo.com.br, andre_feitosa@msn.com


Participe! Conferência e Mesas de debates, apresentação dialogada de espetáculo, vídeo-debate, performance e experimentações práticas. Divulgue entre listas, grupos e contatos!
 

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PROGRAMAÇÃO:

 

25 de setembro de 2012 (TERÇA-FEIRA)

 

INSCRIÇÕES NO LOCAL

 

A partir de 13h.

Salão de entrada para Auditório do Centro Cultural Dragão do Mar de Arte e Cultura.

 

 

ATIVIDADE 1: CONFERÊNCIA DE ABERTURA (14h-15h30)

 

:: O Butô como Est-Ética do Acontecimento | Daniel Lins – Professor, UFC

 

:: Mediador para atividade: (a definir.)

Local - Auditório do Centro Cultural Dragão do Mar

 

 

ATIVIDADE 2: DEBATE SOnnBRAS DO BUTOH (15h30-16h30)

Problematizações em 15min/cada fala.

 

:: sombras em cenas | Juliana Weyne - Estudante de Teatro, IFCE

 

:: psikismos das sombras | Andre Feitosa - Professor, FANOR/DeVry Brasil

 

:: sombra e presença do Butoh no Ceará | Silvia Moura - Diretora, Centro de Experimentações em Movimento/CE

 

:: Mediador para atividade: Fernando Lira – IFCE.

Local - Auditório do Centro Cultural Dragão do Mar

 

 

ATIVIDADE 3: DEBATE MATAR OU MORRER (16h30-17h30)

Problematizações em 15min/cada fala.

 

:: negociadores da morte – processos de pistolagem | Yuri Sales - Professor, FANOR/DeVry Br. e UniChristus

 

:: dirigindo a/à morte – processos de direção | Tomaz de Aquino - Diretor, Teatro MiMO

 

:: dança da morte – processos corporais | Thiago Braga – Dançarino, Grupo Aprendizes em Troca/CE

 

:: Mediador para atividade: Danilo Castro – Crítico/Articulista do Jornal OPOVO.

Local - Auditório do Centro Cultural Dragão do Mar

 

 

ATIVIDADE 4: FÓRUM LIVRE DE PENSAMENTOS E SENSAÇÕES (17h30-18h30)

 

Intercâmbio de ideias para questões problematizadas durante a tarde e sugestões de atividades/articulações futuras.

 

:: Mediador para atividade: (a definir.)

Local - Auditório do Centro Cultural Dragão do Mar

 

 

ATIVIDADE 5: ESPETÁCULO COM DIÁLOGO (20h-21h30)

 

:: Espetáculo “Sakura Matsuri: O Jardim das Cerejeiras”, com elenco do Teatro MiMO - 20h | CLASSIFICAÇÃO: 14 ANOS, Bilheteria: R$ 2/ R$ 1, Resenha disponível em: http://www.dragaodomar.org.br/materias.php?pg=sakura

 

:: Diálogo sobre o espetáculo - 21h

 

Local - Teatro do Centro Cultural Dragão do Mar

 

 

26 de setembro de 2012 (QUARTA-FEIRA)

 

ATIVIDADE 6: VÍDEO-DEBATE (9h-12h)

:: Filme “HANAMI – JARDIM DE CEREJEIRAS” (2008, Alemanha/França, dirigido por Doris Dorrie)

 

:: Mediador para atividade: André Feitosa, FANOR

Local – Auditório 1 da FANOR (Av. Santos Dumont, 7800 – Dunas)

 

 

ATIVIDADE 7: EXPERIMENTAÇÕES PRÁTICAS DE BUTOH (15h-18h)

:: Um Corpo Vazio e Um Vazio do Corpo

 

:: Facilitador da atividade: Tomaz de Aquino, Teatro MiMO

Local – Praça Verde do Centro Cultural Dragão do Mar

 

Conclusão das atividades: intervenção “A Sombra de Ícaro” com Thiago Pinheiro Braga – Grupo Aprendizes em Troca.


 

BREVE CURRÍCULO DOS PARTICIPANTES:

 

DANIEL LINS é dos mais importantes intelectuais brasileiros. Autor/organizador com publicações em número superior a 20 livros, articulista para jornais/revistais de grande circulação, além de inúmeros ensaios/capítulos/artigos especializados. Pernambucano que adotou o Ceará como morada de muitos afetos embora se mantendo um cidadão planetário, orientador de trabalhos acadêmicos, professor e convidado em Universidades brasileiras e internacionais, investigador e apaixonado das culturas, em suas diversidades e potências que expressam vida. Filósofo, sociólogo, psicanalista e curador de eventos acadêmicos/artísticos, com doutorado realizado na Universidade de Paris VII e pós-doutorado em Paris VIII. Celebrado como um pensador fortemente crítico e não menos original, surpreendente e criativo, que se dedicou às discussões de Friedrich Nietzsche, de Antonin Artaud e de Gilles Deleuze, com novas possibilidades de interpretar facetas contemporâneas do existir, tais como o rock, o surfe, dentre outras manifestações. Escuta-lo, em Fortaleza, é sempre uma oportunidade de encantamentos estéticos e reflexivos.

 

JULIANA WEYNE – Estudante de Licenciatura em Teatro no IFCE, cantora lírica e atriz-pesquisadora de Artes Dramáticas do Japão com ênfase na dança Butoh. Atualmente participa do Projeto Oficinas de Ciências, Arte e Tecnologia, sob a orientação do professor Gilvandenys Leite Sales, cujo objetivo é desenvolver atividades científicas e culturais visando à divulgação das Ciências da Natureza e da Matemática por meio do teatro, exposições de arte, dança e música.

 

ANDRÉ FEITOSA – Psicólogo com formações humanistas (em psicoeducação e em psicoterapia), mestre em Relação de Ajuda e Intervenção Terapêutica e doutorando em Psicologias, ambos pela Universidade Autónoma de Lisboa. Psicoterapeuta e formador em Abordagem Centrada na Pessoa, professor que desenvolve investigações acadêmicas e estéticas no campo do Butô, dialogando com o obscuro pós-moderno, nas suas categorias de Homem Pós-Vínculo e Pós-Afeto e a produção de anti-psikismos/anti-objetos.

 

SILVIA MOURA – Bailarina, Coreógrafa, Atriz. Fez o Colégio de Direção como Atriz e o Colégio de Dança em Criação Coreográfica. Participou de cursos de Mimésis corpórea com o LUME/UNICAMP, de Butoh com Carlota Ikeda e Maura Baiochi, além do treinamento e montagem com o diretor Shimizu Shinjin - do Gekidan Kaitaisha/Teatro da Desconstrução (Japão). Atualmente, desenvolve trabalhos no CEM – Centro de Experimentações em Movimentos (2002/2012).

 

FERNANDO LIRA – Doutor em artes cênicas (UFBA), Mestre em Comunicação e Semiótica (PUC-SP), graduado em Comunicação Social (UFC). Tem experiência na área de Artes, com ênfase em Dramaturgia, atuando principalmente nos seguintes temas: teatro infantil, peça teatral e comédias. Atualmente, ensina no Curso de Licenciatura em Teatro do IFCE e é Coordenador do Grupo de Pesquisa Comicidade, Riso e Experimentos (CRISE) na mesma instituição.

 

YURI SALES – Psicólogo com formação clínica complementar, mestre em Psicologia com estadia na Universidade de Toronto (na qualidade de visiting-scholar) e doutorando em Psicologia na Universidade Autónoma de Lisboa. Psicoterapeuta e professor de Psicologia, interessado na fronteira e problemáticas emergentes entre a Justiça e o Psíquico, em especialmente, as negociações da morte no imaginário do sertão do Ceará.

 

TOMAZ DE AQUINODiretor Teatral e ator-pesquisador nas linhas de pesquisa da Mimica e do Teatro Físico. Graduado em Artes Cênicas pelo IFCE e formado pelo Curso de Arte Dramática da UFC. Atualmente, participa como pesquisador do grupo Poéticas do Corpo – de pesquisa e experimentação do corpo em teatro e dança, com registro no CNPQ, sob a orientação da professora doutora Mônica Braga Marçal, e dirige o Teatro MiMO, grupo que tem como foco de pesquisa cênica a mímica, o palhaço e a performance.

 

THIAGO BRAGA – Ator, dançarino. Formado pelo Curso Técnico em Dança do Ceará – SESC/SENAC/IACC, Curso de Artes Dramáticas - UFC, Graduando na licenciatura em Teatro pelo IFCE. Integrou o “Centro de Experimentações em Movimento”. Participa atualmente do grupo de treinamento e pesquisa “Aprendizes em Troca”, com investigações no corpo enquanto o lugar do “entre” na dança e no teatro, por meio do treinamento físico/energético, da dança contemporânea e do Butoh.

 

DANILO CASTRO – Ator graduado em Artes Cênicas, pelo Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará (IFCE), estudante do Curso de Jornalismo da Universidade Federal do Ceará (UFC). Atualmente escreve para o caderno Vida & Arte do Jornal O POVO e mantém o blog (www.odanilocastro.blogspot.com) com intuito de promover as artes cênicas com discussões e críticas.

 

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quarta-feira, 22 de agosto de 2012

TE-RA-PY-RA-TE


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Meu nome é André Feitosa. Estudo fenômenos e psiquismos classificados como pós-modernos. Meu interesse é discutir as configurações desse mundo Pós-Vínculo, com ausência de laços, de pertencimento e de narrativas definitivas: entre pessoas e seus dispositivos, especialmente. Originalmente, fui treinado no Humanismo Rogeriano, embora, por todos os atravessamentos/atrevimentos que construí, meu cotidiano mais recente orbita em torno dos conceitos de [h]omem-Sem-Kósmos, de Humanismo Pós-Afeto e de Arte Pós-Orgânica. Faço parte do Coletivo TE-RA-PY-RA-TE, discutindo concepções de vanguarda estética e desconstrução filosófica para as ações da terapéia. Espero encontra-los, se quiserem contribuir para o fim do sujeito moderno.
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†Eros†.

sexta-feira, 3 de agosto de 2012

PsikisMó.vel

Um conto sobre o PsikisMó.vel ...

- Você não deve, nunca, em nenhuma hipótese, deixar os pés livres ou de qualquer maneira, retirar um ou o outro pé dos controles: há três pedais, freio, acelerador e embreagem... dura ou hidráulica, a embreagem sempre te ajuda com as marchas!

- Se você continuar dirigindo bem, sem multas e transgressões, por um tempo significativo, e esforçar-se o suficiente, você pode, inclusive, adquirir um mecanismo mais sofisticado: a marcha-automática... então, você será mais feliz! Porque você já é feliz, mas pode melhorar...

- Além de ser mais fácil, e demandar menos esforço, você geralmente pode olhar para o céu, pelo teto-solar - é uma vista muito bonita... Chegar mais rápido, com mais conforto, e menos ruído...

- Não se preocupe: depois de acostumado, você já se move sem pensar, nem precisa ocupar-se do que está fazendo... e com os novos modelos, há tecnologia de bordo!

...
- "Então, tudo deve ser o mais automático, deve o início?"

- É. Com mais esforço, ou com menos esforço nas marchas, mas deve ser automático, quase natural para você.

- "Então, no automático, com pedais ou sem pedais, automaticamente eu preciso estar dentro do carro..."

- Claro, movendo-se, deslocando-se, vivendo... vivendo, meu rapaz!

- "Moço, eu não dirijo".
- Impossível...

- "Moço, eu não tenho carro".
- Impossível...

- "Moço, meus pés, agora: olhe... livres e de qualquer maneira".
- Impossível...

- "Moço: meus pés, de qualquer maneira... eu, do lado de fora, com todo o ruído...
- Impossível: não existe ninguém se movendo com os pés livres... ninguém vive fora, com tanto ruído.
- Mover-se pressupõe que os pés estejam ocupados... todo mundo sabe disso!

- "Moço, eu não uso tele-móvel nem auto-móvel..."
- Impossível, rapaz...

- "Moço, o que é mover-se?"
- Meu rapaz: a vida Moderna exige um Carro para tudo... claro que você não chega longe com uma carroça com dois bois, seis bois e dois eixos...

- "Moço, eu não tenho carroça"
- Isso não é vida.
- "Moço, não é vida com deslocamentos que exijam pés ocupados em esforço mecânico"
...

‎- Ninguém, absoltamente ninguém, deve colocar a sua vida e a vida dos outros em risco: jamais colocar os pés, avulsos, balançando, descalços... muito! muito arriscado!
- "Moço, e todo mundo precisa dirigir?"
...

segunda-feira, 26 de março de 2012

FIRE

INOCULANDO O FOGO
Por André Feitosa

Disseram-me que os bailarinos enfrentam a gravidade – assim como os aviões, são milagres que derivam da técnica mais rigorosa: corpos de engenhosidades. Por várias demonstrações, nas salas de espetáculo ou nas oportunidades cada vez mais freqüentes; veiculadas, sobretudo, nos canais abertos, algo desse nosso corpo genérico, supostamente no contato estático da cadeira e pouco flexível no cotidiano, dali mesmo, acautelados da vertigem e do incômodo, apercebemo-nos da estranheza evocada por essa configuração "pacata" com a qual nos privamos de aprendizados mais significativos em nossas interações. Afortunadamente, todavia, há estes outros da nossa espécie, cujos saltos, vôos, flutuações e o improvável das suas rítmicas seqüestram-nos do óbvio para o despejo torrencial numa sensação de encanto. Era o primeiro sábado nas estrelas desse ano zodiacal, quando se viram movimentos de sombras e de potência, co./ga.metas de deslumbre que nos atravessam, e, às vezes, tão incrivelmente, nos emudecem atrás das nossas desventuras e pedidos secretos. Estávamos nas vizinhanças da lua mais forte em Áries, de Mercúrio, o Senhor da guerra e invasor das mudanças, e apresentações exóticas do moderno na dança percorreram Fortaleza. Não apenas a oferta de lugares superou as expectativas de ocupações, mas fartam os elogios que se difundem em um território de influências globalizadas e das mídias sociais. Originárias nas espacialidades urbanas caracteristicamente alternativas (leia-se, outrora marginalizadas, “desqualificadas” etc), trata-se de duas linguagens irmãs, no espírito de uma época criativa (por volta dos anos de 1960) – embora de parentesco geograficamente distante, nos objetivos, signos e tessituras gestuais. Quis-se, nas felizes coincidências que a vida instaura, encontrarem diferentes facetas da mesma Capital: de um lado, os movimentos recortados na dor e de provocativa lentidão, conduzidos nas trevas que findam por respingar delírio na platéia; na outra geometria, a estética sincrética da moda, do luxo, dos negócios e das transmissões virtualizadas, traduzida com uma pigmentação herege ao corpo pós-yuppies e pós-feminista (vg, Lady Gaga etc). Do imaginário pós-guerra do Japão ao centenário Teatro José de Alencar, Tadashi Endo encarna o singular do seu “Butoh” para um corpo híbrido dos inúmeros intercessores que assimilou, em uma carreira junto aos músicos, cineastas e dramaturgos, em campos do Jazz, da Ópera e da produção audiovisual alemã. Quarteirões opostos, dos Estados Unidos mitificado sob a influência do charme étnico e insinuoso do “Voguing”, do Harlem nova-iorquino no contra-fluxo e das intensas experimentações, Edgel Correa e sua Troll despistam aos hypster-atônitos..., com essa inabitual feição da energia masculina ao redesenhar os apelos embrutecidos da paixão e o paganismo na expressão dos desejos. Com sua estréia profissional nos tablados da MEET Music & Lounge, o clube vestiu-se do galanteio anfitrião que acolhe performances na tintura de luzes dirigidas em suas galerias. Se no “Butoh” do sansei Endo perseguem-se os dramas vivenciados no luto, na subtração e na despedida dos seus mestres, é no “Voguing” do belo Correa que se exterioriza a fissura do tempo prosaico numa via do sensível über-tecnológico com suas mutações. Lembrando o brilho audacioso de Daniel Peixoto, vêem-se aos raros corpos cinemáticos desses alquimistas pós-modernos, por vezes envoltos na penumbra da larga incompreensão: com maquiagem que não disfarça a inquietude no olhar, esse arché-tipo não cede à frustração nas curvas do destino, transmutando gólens imaginativos pelo ofício da sensorialidade épica. Dançam, porque a vida nunca lhes bastou – na lembrança de Gullar. Não há menos aflição, ainda que o artifício poético adote, sim, polaridades e vias magistrais (de magiar, mágico) peculiares: Tadashi aposta na contradição que, também suave, fez-nos embevecer; Edgel investe na alegria que pode intoxicar e liberar-nos da conformação míngua. Não sem razão, em seus respectivos cenários de difusão, ambas as linguagens desafiaram identidades hegemônicas e narrativas lineares, porquanto co-gestadas ao lado das turbulentas e seminais manifestações, que a posteriori, na transição dos séculos, convencionou-se enquanto um pensamento contemporâneo nas artes. Talvez, ainda não entendamos, como público geral, de quais modos desdobra-se a fragilidade imediata dos músculos e ossos em transformação cênica e dançante como estas que vimos. Quem imaginaria recriações de Butô com dançarinos da Bahia ou uma coreografia de Vogue emoldurada pelos afetos do Siará Grandi? Foi-se o tempo em que o “Butoh” e o “Voguing” eram codificações restritas aos grupos onde floresceram: desde Kazuo Ohno e Madonna, outros bailarinos descobriram alavancas para inventar a linguagem dos seus novos mundos. Nossa engenharia habitual dos corpos parados, reduzidos ao maquínico do YouTube e à ingestão de massa oleosa a frente do Facebook, quem sabe vislumbre em ocasiões como estas, as poucas razões que sacrificam nossa inércia consensual. Petrificados, somos apenas barro nas mãos aquosas desses sonhos terceiros. Servem-nos, afinal, dessa ionização sexual que não teríamos por nós mesmos. Danças que rivalizam, confrontam, resistem, perlaboram, disputam: é razoável decifrar a alma por trás da idéia? Sob o reflexo dos nossos ícones, projéteis dançam algorítmos para nós: no mesmo exorcismo dos monges, que do Butão, monopolizam a espiritualidade que não veremos como nossa.

quinta-feira, 15 de março de 2012

águas daquele março

Era uma vez, era um domingo, era também 16, era o final daquela tarde, e a vida mudou, era (um)a vez de novos sonhos, e um destino que se coloriu. Era vez do tempo, na olaria dos encontros e surpresas, das possibilidades inusitadas. Era uma vez, uma década, um horizonte. Naquela vez, sonhou-se por 50 anos juntos. E já se foi-se uma quinta enorme daquele pedido outrora gigante. Era uma vez, um moço, seria eu, e brevemente viria 2023, o 33, o 43, o 53... o homem, quem sabe, já teria poucos meses além dos seus 70 alcançados, e o meio século de conjugalidades, de reciprocidades, de afetuosidades. Atrás dos seus olhos, percorrendo acontecidos, o mesmo homem lembra daquela tarde, era quase os seus 30, quando lhe pediu a mão e o destino nela inscrito. Guardou para si com amabilidade. Era quase uma vez inteira de muitas estações em dez anos, mas tudo recomeçou, e foi tão bonito: ficção e sonhos da noite em chuvisco. Feliz dezesseis, nas águas daquele março e seu anoitecer. Salve, esse amor que antecede o Equinócio de Outono. Águas daquele marco...

quarta-feira, 14 de março de 2012

Processo Formativo em Humanismo

O Madrigal de Éros (Processo Formativo em Humanismo, com Ênfase em Abordagem Centrada na Pessoa - 2012/14), terá seus próximos Encontros-Tutoria: sábados 7 de Abril e 2 de Junho, retornando com o segundo Intensivo de Férias, em Junho-Julho/2012, e Encontros-Tutoria posteriores, sábados 15 de Setembro e 17 de Novembro. Atenção para o Grupo de Encontro, entre 5-7 de maio e 26-28 de outubro. Quem estiver interessado em participar, novas inscrições até 1.Junho.

Leituras: 1ª tutoria – Diálogo entre Carl Rogers e Paul Tillich; Diálogo entre Carl Rogers e Martin Buber; Capítulo do livro Artes do Existir – Trilha de vida e espiritualidade em Maria Bowen: “interconexão no universo na psicoterapia”; Capítulo do livro Sobre o Poder Pessoal – Uma base política: a tendência à atualização. / 2ª tutoria – livro Abordagem Centrada na Pessoa de John Wood.

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

Praças: De Alexandria à Fortaleza

Saibamos qual é o lado da praça, dos muitos lados, das muitas praças, em que estamos...

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ECOS DA FILÓSOFA HIPÁTIA
André Feitosa

A experiência cabe em toda e qualquer marginalidade que se pretenda encerrar: aquela dos religiosos, inclusive. Todavia, a religião e as suas direções/divindades não constituem elementos imprescindíveis ou requisitos compulsórios na Ciência, no Estado e no Debate Público Democrático. Considerando que os exercícios biológicos da empatia e da vinculação, além da manifestação cultural da ética e do respeito não são domínios privativos de nenhuma crença religiosa ou código espiritual, a verticalidade na capacidade humana para expressar e reinventar seus potenciais é um campo de objetivos em mutação histórica e paradigmática. Sendo legítima a experiência da espiritualidade, assim como as são, por exemplo, experiências estéticas, lúdicas e imaginativas, o fato de pertencerem aos domínios das faculdades e das instituições humanas não decorre a obrigação pressuposta que as relações sociais e políticas estejam referendadas por quaisquer das suas concepções mais particulares. A prevalência de discursos hegemônicos nesse condão de interesses segregadores, ou a constatação simplificada das adesões majoritárias, não cessa a inviabilidade contemporânea de pretensões anacrônicas à dignidade humana nas conquistas do nosso século. A realidade da experiência sensível e lúdica, assim como o imediato da experiência mística e transcendente, dentre outras facetas (mágicas, míticas, imaginativas, corpo-vivenciais etc) do humano diverso que somos, não são demandas capitulares aos mecanismos de funcionamento e efeitos que se desdobram no Estado e na Ciência. O Estado avança com a potência inexplorada que os homens vislumbram em suas artes e artefatos – veios substituídos e atalhos de outrora esquecidos; novos riscos e fronteiras. Que não cesse a fruição identificada nos caminhos do passado, mas que o Estado não obste a poética indecifrável no momento e seus peregrinos. O estatuto de laicidade é uma conquista histórica que resguarda, fundamentalmente, o próprio direito de manutenção desses compromissos bizarro-dogmáticos em diversos coletivos pré-Modernos, religiosos sobretudo – de outra forma apresentados, padeceriam na ameaça de perfeita e iminente extinção em face da inadequação aos tempos da diferença e da alteridade. As garantias individuais são plurais, atinentes às necessidades de cada um e uma, mas a Ciência é laica e o Estado, por definição, é tão somente laico: a propósito dessa narrativa universalizante, seja o deus ou os seus correlatos, qualquer tentativa de monopólio metafórico com pretensões vinculantes no agir público, é ingerência que volatiliza o Estado na afirmação do encontro e no enfraquecimento do diálogo em permuta à imposição do arbítrio-temor que nos silencia. Como Humanista, a experiência humana cabe em toda e qualquer marginalidade que se pretenda encerrar: inclusive, considerar que não há um/o deus para o braço do Estado, com interdições e sanções que possam adotar novas matrizes de regulação que superem e inovem às referências anteriores; considerar que não há um/o deus para a Ciência, para intervenções que alcancem objetivos mais amplos, minimizando os circuitos de repetição e exclusão; que amplifiquem novas paixões, e, certamente, possibilitam novas tensões-reflexões. O movimento que favorece o sonho com o paraíso, também oscila na contra-força da mesma balança cósmica: ousar transgredir horizontes do sentir e do conhecer que extrapolem as convenções na alma do mundo. Assim nos lembra, salve, salve, de Alexandria para Fortaleza, a filósofa Sandra Helana de Souza ("O triunfo da religião?"*, Opinião - Jornal OPOVO, 22/02).

* Texto original da filósofa Sandra Helena de Souza disponível em:
http://www.opovo.com.br/app/opovo/opiniao/2012/02/22/noticiasjornalopiniao,2788396/o-triunfo-da-religiao.shtml

quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

About us, humanists

Sobre Humanismos...

http://www.lacan.com/interpassf.htm

quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

Casamento, Marriage - Yuri & Ivna

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É na estação da alegria que os povos das estrelas e os povos dos mares celebram o mysterium cósmico e partilham conosco a magia que transborda do reencontro de almas entre Yuri De Nóbrega Sales e Ivna Cavalcante Barros, que irão casar-se sob a lua vindoura, nesse sábado de janeiro em 2012, na Cidade de Fortaleza. Ofertas de incensos às estrelas, de flores aos mares e de velas ao destino do casal serão recebidas com honras de gratidão pelos respectivos guardiões em seus pórticos. Aqueles que estiverem espiritualmente conexados nessa ancestra jornada, podem também ofertar suas orações genuínas de silêncio, mandalas de crescimento e aspirações mais sinceras. Queira o futuro brotar de suavidade nos passos de ambos.

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It is joyful season for both the peoples of the starts and the peoples of the seas once we join the celebration of such cosmic mysterium as well as sharing the magic which comes out from the recounter of souls between Sire Yuri de Nóbrega Sales and Lady Ivna Cavalcante Barros who will get married under this coming moon, next Saturday of 2012 January, in the City of Fortaleza. Offers of incense for the starts, of flowers to the seas, and candles to the destiny of the couple will be received with honors of gratitude from the respective guardions at their portics. Those who feel spiritually connected within this ancestral journey, may also offer their genuine prayers of silence, mandalas of growth and most sincere aspirations. May the future unfold tenderness upon the steps of both of them.