quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

Processo Formativo em Humanismo - Ênfase em Abordagem Centrada na Pessoa

26 inscritos no "Processo Formativo em Humanismo - Ênfase em Abordagem Centrada na Pessoa (2012-2014)". Solicitações tardias, por e-mail (ipefortaleza@gmail.com), enquanto houver vaga. Início em 9 de janeiro de 2012.

segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

FORTALEZA & CARL ROGERS (1902-2012) EM 110 AÇÕES CELEBRATIVAS

FORTALEZA & CARL ROGERS (1902-2012) EM 110 AÇÕES CELEBRATIVAS
Abordagem Centrada na Pessoa – Fortaleza (Brasil)

“Ninguém que tenha natureza de pessoa pode esconder as suas natências.”
Manoel de Barros (O Livro das Ignorãças, 1993/2006, p. 35)

Casa do IPê – Instituto da Pessoa
Curadoria André Feitosa e Yuri Sales
ipefortaleza@gmail.com

Em Janeiro de 2012
28 Módulos Introdutórios – Fundamentos da ACP (Tardes)
20 Palestras – Desafios Contemporâneos à ACP (Noites)
– Aberto à Comunidade –

Entre Fevereiro e Junho de 2012
10 Conferências (Noites)
– Gratuitas, Quinzenais, Aberto à Comunidade –

Movimento, Poética do Corpo e Práticas Expressivas
1 Workshop (Março/12, a confirmar) e 1 Residência Artística (Abril/12, a confirmar)

Em Julho de 2012
24 Módulos Intermediários – Fronteiras entre ACP e os Humanismos (Tardes)
14 Palestras – Desafios Contemporâneos à ACP (Noites)
– Aberto à Comunidade –

Entre Agosto e Dezembro de 2012
10 Conferências (Noites)
– Gratuitas, Quinzenais, Aberto à Comunidade –

Feriado no primeiro e no segundo semestres
2 Grupos de Encontro Residenciais
– Proposta gerida com participantes –

LANÇAMENTO – Ao Público Geral
“HUMANISMO NOS TEMPOS DE HOJE”,
Volume 1 (março/12), Volume 2 (junho/12), Volume 3 (setembro/12), Volume 4 (dezembro/12),
Colaboradores da ACP no Japão, Austrália, Coréia do Sul, Rússia, Grécia, Áustria, Alemanha, Escócia,
Estados Unidos, Canadá, Argentina e Brasil

LANÇAMENTO – Aos Estudantes
“Processo Formativo em Humanismo – Ênfase em Abordagem Centrada na Pessoa (2012-2014)”, dirigido a universitários bolsistas do PROUNI e graduandos em condição de vulnerabilidade sócio-econômica
– Seleção até o final de Dezembro de 2011 –

LANÇAMENTO – Aos Profissionais
Turma de Especialização Acadêmica em ACP (a ser divulgada)

quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

Post-Humanities

Post-Humanities...

http://naughtthought.wordpress.com/2011/12/04/post-deleuze-or-new-materialisms-post-humanism-and-speculative-realism/

FORMAÇÃO EM ABORDAGEM CENTRADA NA PESSOA (2012-14)

PROCESSO FORMATIVO EM HUMANISMO

O professor André Feitosa, docente do Curso de Psicologia da Faculdade Fanor-DeVry, está organizando, em Fortaleza (CE), um Processo Formativo em Humanismo, ofertado como uma atividade extra-curricular, do nível básico das informações e dos conceitos, chegando às questões fundamentais e aos desafios atuais.

Esse Curso que será realizado em uma única edição, irá ocorrer de modo intensivo nos meses de férias (janeiro e julho), além de dois encontros presenciais aos sábados ao longo do semestre letivo, durante os próximos três anos (2012, 2013 e 2014). Destina-se aos estudantes e profissionais interessados nas reflexões da Abordagem Centrada na Pessoa, desenvolvida por Carl Rogers e desdobrada por seus colaboradores.

Todos os estudantes são bem-vindos, embora o público alvo, de modo particular, são os bolsistas de PROUNI, estudantes em diferentes modalidades de vulnerabilidade sócio-econômica e estudantes em jornadas paralelas de trabalho-residência que, muito dificilmente, teriam a oportunidade de cursar uma Formação em Humanismo, dado o investimento financeiro e o ritmo de tempo em que tradicionalmente ocorrem as atividades dessa natureza.

Se é do seu interesse participar do Processo Formativo em Humanismo, compareça na reunião informativa, nesta quinta-feira, 8 de dezembro de 2011, às 18h30, na Faculdade Fanor-DeVry (Av. Santos Dumont, 7800 – Dunas – Fortaleza – CE).

Outras informações: andre_feitosa@msn.com

sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

...

1968
BE REALISTIC, DEMAND THE IMPOSSIBLE.
..

2011
Merry Crisis and a Happy New Fear
...

Video


Video com o Prof. Elkins...


http://www.youtube.com/watch?v=vRwt_DEsQ5M&fb_source=message

Com legendas em Portugues e Espanhol (selecionar idioma no icone "cc" da janela aberta).
Gentileza, divulgar...

quarta-feira, 23 de novembro de 2011

mortes na psicologia

...
Dr. James Hillman, faleceu em 27.Out.2011
Dr. Léo Matos, faleceu em 15.Nov.2011
Dr. Roger Woolger, faleceu em 18.Nov.2011
...

em uma mesma quinzena, perdas insuperáveis:
um tributo à generosidade desses homens, na prática e na teoria que ofertaram.
realmente, uma homenagem pelo legado -- inclusive, de alcance no Brasil.

segunda-feira, 7 de novembro de 2011

DSM-5

UMA CARTA ABERTA DAS PSICOLOGIAS AMERICANAS

Mais que o Humanismo de Carl Rogers, ou as versões de Humanismo Existencial, Fenomenológico etc, o Movimento Humanista em Psicologia, ou a "Terceira Força" foi o berço de rupturas na segunda metade do século XX: aqui se gestaram concepções muito particulares à Psicologia, confrontos à Psicoterapia e à Teoria da Personalidade então vigentes. Questionávamos, como Humanistas, acaso seríamos capazes de desdobrar as problemáticas humanas fora do histórico médico e da racionalidade medicalizada-farmacológica? O Dr. Samuel A. Cartwright, por exemplo, em artigo publicado na The New Orleans Medical and Surgical Journal, em maio de 1851, identifica a “drapetomania” como um agravo mental que acomete os negros: “The cause, in the most of cases, that induces the negro to run away from service, is as much a disease of the mind as any other species of mental alienation, and much more curable, as a general rule” (p. 707; ref.: http://www.google.com/books?id=mjkCAAAAYAAJ&pg=RA2-PA707&#v=onepage&q&f=false). Crítica à patologização do comportamento humano, a Sociedade de Psicologia Humanista – Divisão 32 da Associação de Psicologia Americana formulou uma Carta Aberta ao DSM-5 (a quinta versão em construção do Manual Diagnóstico e Estatístico da Associação Psiquiátrica Americana), que reuniu centenas de notícias e mais de 3500 assinaturas, apenas em duas semanas de circulação. Segundo informa a Carta, “DSM é um componente central da pesquisa, formação e exercício profissional da maioria de psicólogos registrados nos Estados Unidos.” A referida Petição eletrônica (www.ipetitions.com/petition/dsm5/) foi endossada pela Associação Americana de Aconselhamento, pela Sociedade Psicológica Britânica e pelo Conselho do Reino Unido de Psicologia, em aliança com a Rede de Psicologia Construtivista, a Associação pelas Mulheres na Psicologia, a Associação para Educação do Aconselhamento e Supervisão, a Sociedade para Psicologia Descritiva, a Sociedade para a Psicologia do Aconselhamento, a Sociedade para Avaliação da Personalidade, a Sociedade dos Psicólogos Indianos, a Associação para o Aconselhamento Humanista, a Associação Nacional Psicológica Latina, a Associação para a Criatividade no Aconselhamento, a Sociedade para os Estudos Psicológicos de questões das Lésbicas, Gays, Bissexuais e Transgêneros, além das Divisões 6, 7, 17, 27, 29, 35, 39, 42, 44, 49 e 51 da APA. Robert Spitzer e Allan Frances, dois membros nos grupos de trabalho anteriores para construção do DSM, também somaram seus esforços a essa mobilização de profissionais e usuários da saúde. Frances, em sua análise de 1 de novembro (www.psychiatrictimes.com/blog/dsm-5/content/article/10168/1981447), afirmou que “(...) não parece haver apoio ao DSM-5 fora do círculo muito estreito daquelas várias centenas de experts que o criaram (...) não há qualquer grupo (...) fora da Associação Psiquiátrica Americana que tenha qualquer coisa boa a dizer sobre o DSM-5”. A Associação de Psiquiatria Americana, oligarquia autoral que responde pelo Manual, é uma instituição de classe que abriga 35 mil psiquiatras americanos. Todavia, entre os clínicos que serão referenciados, estão mais de 200 mil assistentes sociais, 120 mil aconselhadores de saúde mental, 90 psicólogos, 75 mil enfermeiras psiquiátricas, 55 mil terapeutas familiares, além de terapeutas ocupacionais, educadores, peritos forenses, pesquisadores etc. Para imaginar o alcance desses diagnósticos além do território imediato americano, sugiro a leitura de “Crazy like us: the globalization of the American Psyche” (de Ethan Watters, publicado pela Free Press, 2010). Outras Petições contra o DSM-5 também manifestam suas reivindicações, algumas, por exemplo, com próximo de 10 mil assinaturas (http://www.thepetitionsite.com/2/objection-to-dsm-v-committee-members-on-gender-identity-disorders/), outras, com 5 mil (http://www.stopdsm.blogspot.com/). Se você deseja saber mais e participar das atividades em curso, no Facebook, acesse a comunidade “Society for Humanistic Psychology”.

André Feitosa (Prof. de Psicologia - FANOR e Doutorando em Psicologia - Universidade Autónoma de Lisboa Luís Camóes) -- andre_feitosa@msn.com

sábado, 5 de novembro de 2011

Caixa dentro de caixa dentro de caixa...

PAUSAS E TREMORES

Guardamos o afeto pelas coisas. Estrelas opacas, ou rosas de cintilar minguante... apenas desaparecem. Pastas, sacolas, caixotes, listas, pessoas... um olhar para trás que não pode ver além do hoje? Adormecê-las em nossa paisagem, ode e súplica. Guardamos o afeto que vivemos com algumas pessoas. Mas não conseguimos, embora insistamos. Tentamos guardar o que em nós foi bom ou talvez bonito. Mas não conseguimos, embora, eventualmente, mingüemos no esforço. Onde estávamos com os nossos pertences, resta a poeira do que seguiu e não deixou bilhetes, nem chocolates. O que em nós delimita-se, quando esse alguém já foi embora? O cheiro, diríamos. Nós o esquecemos. O gosto, tanto e tanto queríamos. Nós também o perdemos. A imagem, pensaríamos atravessá-la, incessantemente conosco. Nós a descaracterizamos: invariavelmente deformada. Não somos bons em matéria de arquivamento. Há sobras, resíduos, aparências. Há papéis, de tudo que manipulamos com letrinhas avulsas da sopa fria. Há bandejas, invólucros, relicários para os nossos odores. Debaixo das caixas, há marcas do tempo e suas finas silhuetas. Nas camisas dobradas, pequenos delitos e manchas. Nas tampas dos perfumes, apenas o imaginário suavizado. Nas cruzetas, estamos suspensos pelo equilíbrio. Retemos nossas tentativas de provas, martírios, evidências. É lá, que buscamos esclarecimentos, satisfações, vestígios. Perdendo, a conta gota: delírios umidificados no beijo, na ladeira da curva da aliança, nos pavores e vapores, nas intensidades e nas ansiedades, no suor, na saliva, na secreção, no sangue, no sêmen, nas lágrimas. Dentro das gaiolas com tubos vazios de pasta de dente, dentro dos cheiros calcificados entre a lapela do alpiste e a louça do banheiro em mármore, lá nós investigamos as sobras, os excrementos, os furos, as traças... as nuvens passam, e tudo que não precisa ser reciclado causa-me dengo-dengue: geometricamente macio, viscoso e aveludado nas cores. Minha religião é a descrença. Vomitar, até sentir dor, e expelir o último molho de chaves. Na ocupação regurgitada do espaço, me confirmo um mero transeunte: sem luzes, maquiagem, microfone, roteiro; não há escombros. Procuro respostas, nas frechas, nas passagens, nas colagens que unem partes simétricas dos objetos. É uma cena aterrorizante, nu perante a coleção de desconhecimentos que flutuam no jardim dos abismos que naveguei. Não afunda, e não me faz boiar – não tenho relações, estão perdidos desde sempre... e porque não foram embora, de mãos dadas com o tempo encardido das coisas? Quando a poética do gesto suplanta-se nas unhas e nos cabelos mortos, então, a alma já não quis o corpo arqueado e dolorido – e fez-se, apenas, carne e pregos.

SOBRE UM ESPETÁCULO DE DANÇA...
Anatomia das Coisas Encalhadas - Direção e interpretação de Silvia Moura
Do Grupo CEM – Centro de Experimentações em Movimentos
5 de novembro de 2011, na Bienal de Dança do Ceará

sexta-feira, 4 de novembro de 2011

Águas em Dança














* Foto Marina Cavalcante - Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura


Afeto, afago, afogo


Das montanhas, era uma vez a água. Imagine um corpo de água. Dentro do corpo, circula a água doce das montanhas verdes e dos céus azuis. No corpo herdeiro daquele azul, imagine contos que amadurecem frutíferos, como ilhéus de sentidos. Chuviscos desses contos precipitam-se, com a estação dos abandonos que se repetem. Em cada conto inconsiderado, imagine uma malha de afetos na forma de dunas – muitas formas naquelas muitas ondulações. No cheio das luas, e das marés, também se movem as dunas, comunicando entre si diferentes contos que vieram de longe. Cuidado para não se afogar: considere que esse afetos-dunas são ventanias que imprimem movimentos às águas: por acúmulos sucessivos, oferecem ilusões de profundidades a isso que, de outro modo cru, seria apenas abismos e não circunstanciais depósitos de areia e certeza. Portanto, aqueles ilhéus de contos não são os territórios que nos situam-flutuam-sitiam em meio a tanta água – ao contrário, os ilhéus lançam-se em declive profundo, ao mais inalcançavelmente sem fim. Seu fluir de eterno afetos possibilita-nos sulcos de passagens na cena-miragem desse contínuo de movimento que ocasionalmente se deixa fisgar como paisagem-memória. Imagine que esses corpos de água, condensados de um processo que não cessa de recontar-se, já transpiram na exigência do viver. Perdem água e mais água, também por obrigação e por colaterização. Imagine que para um corpo tão somente de água, perder-se, ademais, em lágrimas, mais do que dor imediata, é perder camadas da própria pele, do próprio funcionamento, da sua proteção e mediação com outros aqüíferos. Imagine que nenhuma gota dessa água é perdida. Imagine que as três cegas ninfas, desconhecendo de onde provêm rios e afluentes dessas águas lacrimosas, guardam-nas em pequenos sacos de plástico transparentes, e fitam com o encarnado do mágico e do delicado. Surgem depósitos daquela água-redemoinho vertida pelos corpos de água, abrigados em sacolas e sacolas, que forjam dunas de sacolas de lágrimas. Há também caixotes. Cada vez que se perde, quer-se ter de volta o que partiu: aqueles volumes de si. Caixotes, mudanças. Acho que o nome é saudade da água que se foi. Caixotes, mudanças, fotografias. Mas não é saudade – ou nem sempre. Fita nos olhos: é para não gritar. Às vezes, é apenas o transbordar desses afetos, dessas águas que se avolumam sem v/razão, águas barradas. E que explodem, sem contenção... pelos olhos, sobretudo, e nos poros, apenas água. As ninfas, apenas a-guardam. De tanto ouvir as súplicas dos corpos que se esvaem, as duas criaturas lentas do tempo, do tempo da fecundidade e do tempo da amargura, permitem que as velhas restituam os córregos daquela água perdida. Criaturas pétreas rolam, e também como no Sertão, vê-se o jorrar abundante de pregos e soluços correlatos... Ter de volta o que de mim partiu, seria um alento, seria uma esperança – jamais seria motivo de convulsão... exceto, apenas somente, se meu corpo de água pudesse lembrar que, a cada gota que se vai, mais e mais ferido eu me torno, mais e mais exposto, mais e mais avesso à água que um dia fui... quando as tais ninfas obscuras apenas devolvem a água salgada das minhas tantas lágrimas, tantos sais e tanta água, de cada uma daquelas lágrimas, de toda a vida desse corpo molhado, então, o sal queima, contrai, extirpa, incendeia aquela morada, meu corpo, outrora sua fonte e origem. Ninguém imaginaria que as lágrimas minhas que retornam tra(i)riam a memória molhada do corpo ferido, corpo ora incapaz de abrigar o que já não é mais seu – a menos que submetido pela violência da contorção, do debater-se, do evadir-se da sua própria dor e desespero. O corpo rasga-se das escassas e tão finas camadas de memórias ferozes, urge, grita, salpisca... Essa água que volta não me cura, porquanto lágrima nenhuma abriga as nuvens para a minha doce sede. Semelhanças entre água e emoções são meras coincidências? Na solidão extensa, a violência que me seqüestra toda a água, e que por isso me torna menor, não será a mesma que irá me fazer maior – retornando, essa água que, míngua e salina, apenas evapora com toda a cena. Resta o começo: deixai a água partir! Toda, do passado e do futuro.

SOBRE UM ESPETÁCULO DE DANÇA...
Espetáculo “Ind gente – Uma dança para a solidão” (direção de Silvia Moura)
Do Grupo CEM – Centro de Experimentações em Movimentos
Dias 03, 10, 17 e 24 de Novembro, às 20h, no Teatro Dragão do Mar/Programa "Quinta com Dança"
http://www.facebook.com/event.php?eid=257072421007524

RECOMENDO FORTEMENTE...

terça-feira, 1 de novembro de 2011

ENEM...


... a competição e a completude, por regulação mínima de reciprocidade e convivência social, deveriam estar submetidas à frustração, aos limites da não-satisfação patológica... ganhar, ganhar, ganhar, ganhar... superar, superar, superar... crescer, crescer, crescer (tremei, Humanistas!)... inclusive, manter os resultados (Incongruência, rigidez, deformação... diriam os Humanistas!)... não existe como sustentar a construção psíquica desses adolescentes, cujas instituições não os permitem sofrer, perder, cair, morrer... abaixo, reflexões analíticas... no plano civil, má-fé, crime... no plano emocional, perversão...


*


(In)Disciplina e trauma

Por Rafael Pinheiro
http://ditoedizer.blogspot.com/

O último alvoroço envolvendo o ENEM desta vez calhou de estar bem perto de nós. Uma renomada instituição gerou frisson midiático por supostamente ter privilegiado seus alunos com 14 questões da prova do exame nacional. A escola nega veemente má fé no ocorrido e culpa alguma coincidência infeliz de ter as questões em seu vasto banco de dados. Verdade ou mentira tal fato evidencia que algo vai mal na educação de nossos jovens. É curioso que o slogan da referida instituição afirme categoricamente que se trata de um colégio completo. O que está subscrito neste slogan evidencia uma tendência que contamina a maioria das escolas, notadamente as de ensino privado que seguem a lógica mercadológica da eficácia e eficiência máximas. Freud, sempre atento aos impasses culturais, coloca a educação como uma tarefa impossível, pois domesticar por completo a desmesura do ímpeto humano é impraticável: somos seres essencialmente insatisfeitos e, portanto fadados a fracassar sempre que acreditamos ter a satisfação absoluta ao nosso alcance. Dizer que é impossível educar não invalida o ofício, mas chama a atenção de que não há como alcançar perfeita harmonia quando se trata do convívio na sociedade dos homens. Educar, primordialmente é estabelecer limites, fronteiras de possibilidade para que a criança ou adolescente tenha referenciais consistentes de onde partir e incluir-se em uma ética de convivência. As escolas completas oferecem aos seus alunos toda tecnologia possível com o objetivo de tapar todos os furos no processo de aprendizagem: lousas 3D, i-pads e a onipresente internet conectando o aluno a uma infinidade de conhecimentos. Tudo aponta para completude, para um projeto pedagógico capaz de formar o aluno ideal. A publicidade sabe muito bem disso quando abusa da ilusão de que sabe quais os bens que devem ordenar a satisfação de nossas necessidades. As escolas apostam tudo nas inovações tecnológicas com a promessa de que o impossível está finalmente ao alcance de seus alunos. Entretanto, uma educação que nega a presença de um limite para nossas ilusões narcísicas de onipotência só pode ter como consequência atos perversos que subvertem a ética reafirmando o velho ditado de que “os fins justificam os meios”. Não me causa espanto que tenha sido logo no colégio completo que as questões “vazaram”, pois só há completude para quem burla as regras do jogo, fora disso um dia se vence no outro se perde. Não cabe a mim passar julgamento sobre o dolo da escola no ocorrido, mas simplesmente deflagrar o escândalo. Se este fato servir para abalar a confiança dos alunos na onipotência da escola como lócus de saber, então esta nova crise do ENEM não foi em vão. O site do MEC informa que alunos da própria escola afirmaram ter recebido as questões em off com instruções claras de não compartilha-las com candidatos de outras escolas. Ora, a saia justa que por hora passa a escola foi a melhor lição que seus alunos tiveram em 2011: se o efeito for traumático para os envolvidos, tanto melhor! Se o trauma servir para legitimar o lugar da lei e do limite na construção do senso ético destes jovens já terá cumprido sua função principal que é furar nossa tão preciosa ilusão de completude.

DSM-5

UMA CARTA ABERTA DAS PSICOLOGIAS AMERICANAS

Mais que o Humanismo de Carl Rogers, ou as versões de Humanismo Existencial, Fenomenológico, Existencial-Fenomenológico, Hermenêutico etc, o Movimento Humanista em Psicologia, ou a "Terceira Força" foi o berço de importantes críticas e rupturas na segunda metade do século XX: aqui se gestaram concepções muito particulares à Psicologia, confrontos à Psicoterapia e à Teoria da Personalidade então vigentes, modos e metodologias que não se reduzem às sociologias, antropologias e filosofias políticas com as quais dialoga. Somos capazes de desdobrar e intervir nos problemas humanos fora da racionalidade medicalizada-farmacológica? Crítica à patologização do comportamento humano, a Sociedade de Psicologia Humanista – Divisão 32 da Associação de Psicologia Americana formulou uma Carta Aberta ao DSM-V (a quinta versão em construção do Manual Diagnóstico e Estatístico da Associação Psiquiátrica Americana), que reuniu mais de 3200 assinaturas, apenas na primeira semana de circulação. Segundo informa a Carta, “DSM é um componente central da pesquisa, formação e exercício profissional da maioria de psicólogos registrados nos Estados Unidos.” A referida Petição eletrônica (www.ipetitions.com/petition/dsm5/) foi endossada pela Associação Americana de Aconselhamento, pela Sociedade Psicológica Britânica e pelo Conselho do Reino Unido de Psicologia, em aliança com a Rede de Psicologia Construtivista, a Associação pelas Mulheres na Psicologia, a Sociedade para Psicologia Descritiva, a Sociedade para Avaliação da Personalidade, a Sociedade dos Psicólogos Indianos, além das Divisões 7, 27, 29, 35, 39, 49 e 51 da APA. Robert Spitzer e Allan Frances, dois membros nos grupos de trabalho anteriores para construção do DSM, também somaram seus esforços a essa mobilização de profissionais e usuários da saúde mental. Frances, em sua análise de 1 de novembro (www.psychiatrictimes.com/blog/dsm-5/content/article/10168/1981447), afirmou que “(...) não parece haver apoio ao DSM-5 fora do círculo muito estreito daquelas várias centenas de experts que o criaram (...) não há qualquer grupo (...) fora da Associação Psiquiátrica Americana que tenha qualquer coisa boa a dizer sobre o DSM-5”. A Associação de Psiquiatria Americana, oligarquia autoral que responde pelo Manual, é uma instituição de classe que abriga 35 mil psiquiatras americanos. Todavia, entre os clínicos que farão uso desse Manual, estão mais de 200 mil assistentes sociais, 120 mil aconselhadores de saúde mental, 90 psicólogos, 75 mil enfermeiras psiquiátricas, 55 mil terapeutas familiares, além de terapeutas ocupacionais, educadores, peritos forenses, pesquisadores etc. Para imaginar o alcance desses diagnósticos além do território imediato americano, sugiro a leitura de: "Crazy like us: the globalization of the American Psyche" (de Ethan Watters, publicado pela Free Press, 2010). Se você deseja saber mais e participar das atividades em curso, no Facebook, acesse a comunidade “Society for Humanistic Psychology”.


André Feitosa (Professor de Psicologia - Faculdades Nordeste/FANOR e Doutorando em Psicologia - Universidade Autónoma de Lisboa Luís Camóes) -- andre_feitosa@msn.com

sábado, 29 de outubro de 2011

DSM-5 e Petição da Divisão 32 da APA

Mais que Humanismo Americano, Humanismo Experiencial, Humanismo Rogeriano, Humanismo Existencial, Humanismo Fenomenológico, Humanismo Existencial-Fenomenológico, Humanismo e Psicologia Profunda, Humanismo e Transpessoal, Humanismo e Psicoterapias Corporais... a "Terceira Força" em Psicologia (agrupada na Divisão 32 da Associação de Psicologia Americana - APA) foi o berço de importantes críticas e rupturas na segunda metade do século XX: aqui se gestaram concepções muito particulares à Psicologia, à Psicoterapia e à Teoria da Personalidade, modos e metodologias que não se reduzem às sociologias, antropologias e filosofias políticas.

Nessa semana, com apenas os dias iniciais de circulação, 2000 assinaturas estão peticionando à Comissão que organiza o DSM-5, arguindo critérios e parâmetros diagnósticos... na mesma lista de protesto, também subscrevem as Divisões 7, 27, 35 e 49 (da APA), além do "Conselho do Reino Unido para Psicoterapia" e da "Rede de Psicologia Construtivista"... VOCÊ JÁ ASSINOU?


http://www.ipetitions.com/petition/dsm5/?utm_medium=social&utm_source=facebook&utm_campaign=button

sábado, 15 de outubro de 2011

Ao Mestre, meu tributo e carinho

Copiando do Facebook...
Hoje, sábado, 15 de novembro de 2011

*

"Parabéns ao seu dia, particular e tão especialmente seu, em nome dos raros, e sempre míngües e raros, diletos professores que como você ofertou-nos um bem generoso ao futuro dos homens e ao nosso destino comum. Não me sinto a vontade para celebrar no infinitivo, no gerúndio, no indefinido, para louvar por uma data que, no abstrato, impedindo-me de enxergar os passos de cada feito, imponha-me a cumplicidade das tormentas educacionais entre pessoas, instituições e seus momentos históricos. Entretanto, que nenhum prejuízo na aprendizagem, cometido a qualquer tempo, em qualquer lugar, sob qualquer pretexto, seja maior que o agradecimento e o amor dirigido àqueles poucos homens que, tais como você, puderam desalojar e maturar, em almas infinitamente vulneráveis e frágeis, a capacidade de tornarem-se grandes, sedentas, floridas. Longa vida ao nosso príncipe, longa vida ao mestre de uma geração de novos mestres, longa vida ao seu compromisso e seu amor pelo saber, longa vida à Universidade que encontramos em suas mãos. Longa vida, assim desejo e espero, para que seu coração suporte o delírio desse mundo. Longa vida aos teus olhos de mistério, que sabem amar às nuvens do desconhecido. Vida, muita vida de proteção e magia, ao Professor Francisco Cavalcante Junior que atravessou nossos desertos, e alí fez surgir jardins: aos seus pés, nossas flores e reverências, nós, os Terapóns da Psiké, aqueles que aprenderam sobre a Jornada de Éros. Longa vida ao homem que nos foi o professor, o supervisor de clínica, o formador, o coordenador de pesquisa, o orientador de iniciação científica, de monografia, de mestrado, de doutorado, o sábio, o amigo, o amor. EwoÉros!" -- André Feitosa.

*

"Emocionado, agradeço àquele com quem mais aprendi sobre tudo o que faço na minha vida, meu pai: Prof. Francisco Silva Cavalcante. Seus sonhos e ideais também são meus. A minha casa foi uma extensão da Universidade. Os campi da UFC e, posteriormente, da UNIFOR, o quintal da minha casa. Neles brinquei, assisti aulas e aprendi a ser professor com o meu grande Mestre Pai Cavalcante, que aos 15 anos precisou sair do interior para ganhar a vida na cidade grande. Em Fortaleza, começou a lecionar aos 16 anos de idade como forma de sobrevivência e no ano seguinte é convidado pelo Prof. Edilson Brasil Soares, um visionário da educação cearense, a ser professor de Matemática. Ele ministrou aulas até o seu último dia de vida aos 74 anos. O Prof. Cavalcante nunca se formou em Matemática, não fez mestrado ou doutorado e foi o responsável por trazer e formar os professores da Matemática Moderna que temos no Ceará. A este sábio e pessoa com a maior humildade que já conheci na minha vida, dedico a linda homenagem que me oferta André Feitosa de Sousa, esperando que o meu coração seja mais forte do que o dele e que os colegas da UFC não façam comigo o que fizeram com o coração dele. Estou na UFC para esperançar a trans-form-ação (ação para além das formas e das fôrmas). Que possamos, juntos, aprender o verdadeiro sentido de Amar." -- Cavalcante Jr.

quarta-feira, 12 de outubro de 2011

Humanistic Psychology International Summer School

Message #1

October 1st, 2011

Dear International Humanistic Colleagues,

We would like to invite you to consider being part of a transformative opportunity that is to take place in Brazil (Summer 2013). We are in the planning stages for an event that will directly follow the International Forum for the Person-Centered Approach (May 26th – June 1st 2013). The event we are imagining would be like a “Humanistic Psychology Summer School” that could bring together students and faculty from around the world. This event would consist of two weeks (Post-Conference, June 2nd – 12th 2013) of workshops, demonstrations, experiential trainings as well as opportunities for field trips, community interactions and most importantly cross-cultural exchanges. Hence, we are speaking of an 18-day program in Brazil, including Conference and Post-Conference activities.

Here is what we are looking for:

· A person at your institution who would be a contact for the “summer school committee”. At first, this might include planning the event and possibly engaging in conference calls that would set the agenda. Later, it may include promoting the opportunity to students and faculty at your school.

· Faculty members who are interested in conducting workshops and/or “mini-courses” that aim at skill building, experiential learning, group and community work, or cross-cultural sharing.

· Persons with the desire to network with other international psychologists. Our goal is to attract both students and faculty members from different continents who are invested in one of the Humanistic Psychologies including but not limited to: Rogerian, Existential, Constructivist, Phenomenological, Experiential, Transpersonal, Biodynamic/Body-oriented, Gestalt, Focusing, Psychodrama, Logotherapy, Integrative, Positive, and Art therapy perspectives.

· Students and professionals belonging to a broad range of Humanistic areas since this “Force” goes beyond Clinical Psychology. We welcome persons involved in Psychotherapy, Counseling, Therapy, Education, Pedagogy, Learning, Social Service, Group Work, Management/Leadership, Nursing, Health/Mental Health, Care & Healing professions, Ecology, Spirituality, Arts and Humanities as well as individuals with personal or research interest on issues of Self-development, Emotions, Meaning, Culture, Diversity, Interpersonal Relations, Social Abilities, Change Processes, among others.

The major goal of this event is to draw together experts and students so that we can learn about different modes and expressions of the Humanistic Psychologies and we can improve our skills, our presence and our conceptual tool-box. In addition, we know we will be enriched by the opportunity of cultural exchange, not just with our Brazilian and Latin-American hosts, but between all the different representatives of countries that we hope will participate at this significant meeting.

Please let us know if you OR someone you know might be interested in this International Program. We would appreciate you asking your graduate students if they might want to get involved with project. Please respond to us by Friday, October 21st, 2011 through email at: school2013humanist@gmail.com if you are interested in this project. We also hope you will join our growing global community on Facebook at “Society for Humanistic Psychology” and “Students of Humanistic Psychology”.

Sincerely,

André Feitosa – Brazil (Northeastern Colleges – FANOR)
andre_feitosa@msn.com
Yuri Sales – Brazil (Northeastern Colleges – FANOR)
yurisnobrega@yahoo.com.br
Richard Bargdill – USA (Virginia Commonwealth University)
rwbargdill@comcast.net
Rochelle Suri – India (Private Practice)
rochelle9@gmail.com

* * *


Message # 2

Dear Colleagues and Fellows,

Greetings from the most clear, deep and blue skies at Northeastern Brazil! We appreciate your willingness to support this international initiative. Thank you both for your prompt feedback and also the opportunity of furthering this exchange between different cultures, generations and intellectual atmospheres.

We are a group of four initial people who got together to imagine a collaborative global endeavor within this broad renaissance/flourishing of Humanistic Psychology during this first decade of 21st. century. Before writing/suggesting anything in terms of curricula/syllabus/schedules for that seminal idea, we thought it would be interesting to share/spread an open invitation letter with people around the continents.

From that letter, you probably read this program would happen during late May, early June 2013, at the Capital of Fortaleza (Brazilian State of Ceará), as a Post-Conference activity that follows the International Forum of the Person-Centered Approach and most likely in a format of “Summer School”, under the motivation of dialoguing with those theories and approaches traditionally related with “Humanistic Psychologies/Psychotherapies” and Humanistic Movement/Third Force in Psychology”.

Myself and my colleague from Brazil, Yuri Sales, we are available to invest our time as to create the most affordable and meaningful learning environment, including field activities and strong community participation. Our colleagues Richard Bargdill (USA) and Rochelle Suri (USA/INDIA) are enthusiastic about the potential of such transcultural event becoming a possibility of globally advancing Humanistic Psychology (HP) for the new/next generations.

At this point, we are looking for individuals and institutions which would appreciate to take part at this on-going “swarming” process, especially considering each one passions/interests, research topics, clinical expertise or ideas on how to actively engage – therefore, we are seeking an event sensation far more complex than just an aspiration to attend a conference. We already have a list of about 20 people who positively answered that call, and it may be the case we will finish this initial process within the next weeks, as to contact and start working with this committee.

If there is a chance to involve more people at this project – especially students from different nationalities –, we shall design something like a proposal within the next two-three months, in order to provide them with time and at least a good chance to require support-credit recognition at their home institutions. We can imagine “funding” and “credit” will be the major issue for students´ decisions, with influence over the participation of young professionals/clinicians and researchers/instructors/professors – we assume these groups are an important part of all this effort, for they will become the future of Humanistic Psychology during these coming years.

We kindly ask you to consider sharing these news with other potential interested people, lists, groups and institutions, particular with your students or students you may know, both undergraduate and graduate/postdocs, as well as your group lists and colleagues, early-career professionals and young scholars. Please let us know if you may have another relevant question for your decision at this moment. Our contact is: school2013humanists@gmail.com .

We hope you will be a part of this activity which is certainly one of a kind. On behalf of the planning committee, we would like to extend you a truly warm welcome and look forward to your contribution and participation. May you succeed at your visit in our Country, may you also find a pleasant stay at our City and your most meaningful participation at this International Summer School. We do hope to see you at Ceará State, this coming May-June 2013, and let us make sure we try our best to provide you with an unforgettable cultural experience in Latin-America. Welcome Brazil 2013, an event for all memories and dreams!

Very Cordially, André Feitosa

* * *

segunda-feira, 10 de outubro de 2011

"A espiritualidade do budismo light é semelhante a uma Louis Vuitton falsa. Brega."

Algumas reflexões de Pondé,
tipicamente de um anti-humanista brilhante;
apesar de suas posições de direita...

Numa outra posição de esquerda,
os argumentos de Zizek,
transcritos abaixo,
seguem raciocínio semelhante...

Podemos não concordar, com os excessos num e noutro,
mas os argumentos fazem-nos pensar...

*





TEXTO DE LUIZ FELIPE PONDÉ
Folha de São Paulo - Ilustrada
26 de setembro de 2011

http://www1.folha.uol.com.br/fsp/ilustrad/fq2609201118.htm

Religião Sustentável

Recebemos, recentemente, a visita do líder religioso budista tibetano Dalai Lama. Os iniciados tiveram surtos místicos?
Nada contra ele. De fato, o líder budista tem uma imagem positiva no Ocidente, ao contrário do papa Bento 16, que é visto como conservador.
O Dalai Lama defende tudo que gente legal defende: o verde, a tolerância com o "outro", um capitalismo do bem, enfim, uma religião sustentável nos termos que ocidentais que migram pra religiões orientais costumam gostar, ou seja, de baixo comprometimento religioso. Além de, nela, não ter nenhum parente chato.
Uma religião sustentável é uma religião na qual ninguém tem de sustentar nada além de uma dieta balanceada, uma bike legal e um pouco de meditação durante a semana. De empresários "do bem" aos falantes da língua tibetana, muita gente correu pra ouvir essa sabedoria "estrangeira".
Religiões são sistemas de sentido. A vida, aparentemente sem muito sentido, precisa de tais sistemas. A profissão pode ser um. A dedicação aos filhos, outro. A história, a natureza, grana também serve. Enfim, muita coisa pode dar sentido a uma existência precária como a nossa, mas nada se compara a uma religião.
Para funcionar, as religiões têm de garantir crenças e constranger comportamentos a partir de liturgias, mitos, exercícios de poder sacerdotais e regras cotidianas munidas de "sentido cósmico".
Você não "acessa" o sentido oferecido sem "pagar", com a própria adesão, o pacote completo. Isso serve para o catolicismo e para o budismo, ao contrário do que pensa nossa vã filosofia "nova era". No Oriente, o budismo é uma religião como qualquer outra, cheia de vícios e abusos.
A crítica à religião no Ocidente passou pela mão de grandes pensadores. Freud disse que religiosos são obsessivos que não sobreviveram bem à falta de amor incondicional da mãe e à miserável castração do pai verdadeiro, daí creem num Deus todo-poderoso que os ama.
Nietzsche identificou o ressentimento como marca dos religiosos que são todos uns covardes. Feuerbach sacou que Jesus é a projeção alienante de nosso próprio potencial.
Marx acrescentou que essa alienação é concreta e que se ganha dinheiro com isso. Enfim: o religioso é um retardado, ressentido, alienado e pobre, porque gasta dinheiro com o que não deve, a saber, os "profissionais de Deus".
O que eu acho hilário é como muito "inteligentinho" acha que o budismo seja uma religião diferente das "nossas".
Ela seria sem "vícios" e "imposições". Pensam, em sua visão infantil das religiões orientais, que dramas sexuais só afetam celibatários de Jesus e não os de Buda, e que o budismo, por exemplo, é "legal", porque não tem a noção de pecado.
O budismo ocidental que cultua o Dalai Lama é o que eu chamo de budismo light. O perfil desse budista light é basicamente o seguinte.
Vem de classe social elevada, fala línguas estrangeiras, é cosmopolita, se acha melhor do que os outros (apesar de mentir que não se acha melhor, claro), tem formação superior, mora na zona oeste ou na zona de sul de São Paulo, come alimentos orgânicos (caríssimos) e é altamente orientado para assuntos de saúde do corpo (um ganancioso com a vida, claro).
E, acima de tudo, acha sua religião de origem (judaísmo ou catolicismo, grosso modo) "medieval", dominada pelo interesse econômico, e sempre muito autoritária.
Na realidade, as causas da migração para o budismo light costumam ser um avô judeu opressivo, uma freira chata e feia na escola e uma revolta básica contra os pais.
Em extremos, a recusa em arrumar o quarto quando adolescente ou um escândalo de pedofilia na Igreja Católica. Além da preguiça de frequentar cultos e de ter obrigações religiosas.
Enfim, essas são a bases reais mais comuns da adesão ao budismo light, claro, associadas à dificuldade de ser simplesmente ateu.
A busca por uma espiritualidade light é como a busca por uma marca de jeans, uma pousadinha numa praia deserta no Nordeste ou um restaurante de comida étnica da moda.
A espiritualidade do budismo light é semelhante a uma Louis Vuitton falsa. Brega.


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TEXTO DE SLAVOJ ZIZEK
Folha de São Paulo
13 de abril de 2008

http://www1.folha.uol.com.br/fsp/mais/fs1304200807.htm

O Tibete não é isso tudo

As notícias publicadas em toda a mídia nos impõem uma imagem determinada que é mais ou menos como segue. A República Popular da China, que, nos idos de 1949, ocupou ilegalmente o Tibete, durante décadas promoveu a destruição brutal e sistemática não apenas da religião tibetana, mas também da própria identidade dos tibetanos como povo livre. Os protestos recentes do povo tibetano contra a ocupação chinesa foram novamente sufocados com força policial e militar bruta.

Como a China está organizando os Jogos Olímpicos de 2008, é dever de todos nós que amamos a democracia e a liberdade pressionarmos a China para devolver aos tibetanos aquilo que ela lhes roubou; não se pode permitir que um país que possui um histórico tão deficiente em matéria de direitos humanos passe uma mão de cal sobre sua imagem com a ajuda do nobre espetáculo olímpico.

O que farão nossos governos? Vão ceder ao pragmatismo econômico, como de costume, ou encontrarão a força necessária para colocar nossos mais elevados valores éticos e políticos acima dos interesses econômicos de curto prazo? Embora a atividade chinesa no Tibete sem dúvida tenha incluído muitos atos de destruição e terror assassino, existem muitos aspectos dela que destoam dessa imagem simplista de "mocinhos versus vilões".

Enumero, a seguir, nove pontos a serem mantidos em mente por qualquer pessoa que faça um julgamento sobre os fatos recentes no Tibete.

Poder protetor

1) Não é fato que até 1949 o Tibete era um país independente, que então foi repentinamente ocupado pela China. A história das relações entre eles é longa e complexa, e em muitos momentos a China exerceu o papel de poder protetor. O próprio termo "dalai-lama" é testemunho dessa interação: reúne o "dalai" (oceano) mongol e o "bla-ma" tibetano.

2) Antes de 1949, o Tibete não era nenhum Xangri-Lá, mas um país dotado de feudalismo extremamente rígido, miséria (a expectativa média de vida pouco passava dos 30 anos),
corrupção endêmica e guerras civis (sendo que a última, entre duas facções monásticas, ocorreu em 1948, quando o Exército Vermelho já batia às portas do país). Por temer a insatisfação social e a desintegração, a elite governante proibia o desenvolvimento de qualquer tipo de indústria, de modo que cada pedaço de metal usado tinha que ser importado da Índia. Mas isso não impedia a elite de enviar seus filhos para estudar em escolas britânicas na Índia e transferir seus ativos financeiros a bancos britânicos, também na Índia.

3) A Revolução Cultural que devastou os mosteiros tibetanos na década de 1960 não foi simplesmente "importada" dos chineses: na época da Revolução Cultural, menos de cem guardas vermelhos foram ao Tibete, de modo que as turbas de jovens que queimaram mosteiros foram compostas quase exclusivamente de tibetanos.

4) No início dos anos 1950, começou um longo, sistemático e substancial envolvimento da CIA na incitação de distúrbios anti-China no Tibete, de modo que o receio chinês de tentativas externas de desestabilizar o Tibete não era, de modo algum, "irracional".

5) Como demonstram as imagens veiculadas pela TV, o que está acontecendo agora nas regiões tibetanas já não é mais um protesto "espiritual" pacífico de monges (como o que aconteceu em Mianmar um ano atrás), mas (também) bandos de pessoas matando imigrantes chineses comuns e incendiando suas lojas. Logo, devemos avaliar os protestos tibetanos segundo os mesmos critérios com os quais julgamos outras manifestações violentas: se tibetanos podem atacar imigrantes chineses em seu próprio país, por que os palestinos não podem fazer o mesmo com colonos israelenses na Cisjordânia?

6) É fato que a China fez grandes investimentos no desenvolvimento econômico do Tibete e em sua infraestrutura, educação, saúde etc. Para explicar em termos simples: apesar de toda a opressão inegável, nunca, em toda sua história, os tibetanos medianos desfrutaram de um padrão
de vida comparável ao que têm hoje.

7) Nos últimos anos, a China vem mudando sua estratégia no Tibete: a religião despida de política hoje é tolerada e mesmo apoiada. Mais do que na pura e simples coação militar. Em suma, o que escondem as imagens veiculadas pela mídia de soldados e policiais chineses brutais espalhando o terror entre monges budistas é a muito mais eficaz transformação socioeconômica em estilo americano: dentro de uma ou duas décadas, os tibetanos estarão reduzidos à situação dos indígenas americanos nos EUA. Parece que os comunistas chineses finalmente entenderam a
lição: de que vale o poder opressor de polícias secretas, campos e guardas vermelhos destruindo monumentos antigos, comparado ao poder do capitalismo sem freios, quando se trata de enfraquecer todas as relações sociais tradicionais?

Ideologia "new age"

8) Uma das principais razões por que tantas pessoas no Ocidente tomam parte nos protestos contra a China é de natureza ideológica: o budismo tibetano, habilmente propagado pelo dalai-lama, é um dos pontos de referência da espiritualidade hedonista "new age", que está rapidamente se convertendo na forma predominante de ideologia nos dias atuais.

Nosso fascínio pelo Tibete o converte numa entidade mítica sobre a qual projetamos nossos sonhos. Assim, quando as pessoas lamentam a perda do autêntico modo de vida tibetano, não estão, na verdade, preocupadas com os tibetanos reais.

O que querem dos tibetanos é que sejam autenticamente espirituais por nós, em lugar de nós mesmos o sermos, para continuarmos a jogar nosso desvairado jogo consumista. O filósofo francês Gilles Deleuze [1925-75] escreveu: "Se você está preso no sonho de outro, está perdido". Os manifestantes que protestam contra a China estão certos quando contestam o lema olímpico de Pequim, "Um mundo, um sonho", propondo em lugar disso "um mundo, muitos
sonhos".

Mas eles devem tomar consciência de que estão prendendo os tibetanos em seu próprio sonho, que é apenas um entre muitos outros.

9) Para concluir, a dimensão realmente nefasta do que vem acontecendo hoje na China está em outra parte. Diante da atual explosão do capitalismo na China, os analistas freqüentemente indagam quando vai se impor a democracia política, o acompanhamento político "natural" do
capitalismo.

Essa questão com freqüência assume a forma de outra pergunta: até que ponto o desenvolvimento chinês teria sido mais rápido se fosse acompanhado de democracia política? Mas será que isso é verdade? Numa entrevista há cerca de dois anos, [o sociólogo] Ralf
Dahrendorf vinculou a crescente desconfiança com que a democracia vem sendo vista nos países pós-comunistas do Leste Europeu ao fato de que, após cada mudança revolucionária, a estrada que conduz à nova prosperidade passa por um "vale de lágrimas".

Ou seja, após o colapso do socialismo não se pode passar diretamente para a abundância de uma economia de mercado bem-sucedida: o sistema socialista limitado, porém real, de bem-estar e segurança precisou ser desmontado, e esses primeiros passos são necessariamente dolorosos.

Vale de lágrimas

O mesmo se aplica à Europa Ocidental, onde a passagem do Estado de Bem-Estar Social para a nova economia global envolve renúncias dolorosas, menos segurança e menos atendimento social garantido. Para Dahrendorf, o problema é resumido pelo fato de que essa dolorosa passagem pelo "vale de lágrimas" dura mais tempo que o período médio entre eleições (democráticas), de modo que é grande a tentação de adiar as transformações difíceis, optando por ganhos eleitorais de curto prazo. Não surpreende que os países mais bem-sucedidos do Terceiro Mundo, em termos econômicos (Taiwan, Coréia do Sul, Chile), tenham adotado a democracia plena só após um período de governo autoritário.

Esse raciocínio não seria o melhor argumento em defesa do caminho chinês em direção ao capitalismo, em oposição à via seguida pela Rússia? Seguindo o caminho percorrido pelo
Chile e a Coréia do Sul, os chineses usaram o poder irrestrito do Estado autoritário para controlar os custos sociais da passagem para o capitalismo, desse modo evitando o caos.

Em suma, uma combinação esdrúxula de capitalismo e governo comunista, longe de ser uma anomalia ridícula, mostrou ser uma bênção (nem sequer) disfarçada: a China se desenvolveu na velocidade em que o fez não apesar do governo comunista autoritário, mas devido a ele. E se aqueles que se preocupam com a falta de democracia na China estiverem na realidade preocupados com o desenvolvimento acelerado da China, que faz dela a próxima superpotência global, ameaçando a primazia do Ocidente?

Há mesmo um outro paradoxo em ação aqui: e se a prometida segunda etapa democrática que vem após o vale de lágrimas autoritário nunca chegar? É isso, possivelmente, que é tão perturbador na China de hoje: a idéia de que seu capitalismo autoritário talvez não
seja apenas um resquício de nosso passado, a repetição do processo de acúmulo capitalista que se desenrolou na Europa entre os séculos 16 e 18, mas sim um sinal do futuro. E se "a combinação agressiva entre o chicote asiático e o mercado acionário europeu" se mostrar economicamente mais eficiente que nosso capitalismo liberal? E se ela assinalar que a democracia, tal como a conhecemos, não é mais condição e motor do desenvolvimento econômico, e sim um obstáculo a ele?

SLAVOJ ZIZEK é filósofo esloveno e autor de "Um Mapa da Ideologia"

domingo, 9 de outubro de 2011

PRAGMATISMOS E SUAS PSICOLOGIAS/PSICOTERAPIAS CORRESPONDENTES

SEMINÁRIO FANOR - PRAGMATISMOS E SUAS PSICOLOGIAS/PSICOTERAPIAS CORRESPONDENTES

Tema: "Linhas Paralelas encontram-se no Infinito..."

Prof. Tiago Magalhães (FANOR e FCRS), Psicólogo com formação em Análise do Comportamento
Prof. André Feitosa (FANOR), Psicólogo com formação em Abordagem Centrada na Pessoa

AGENDE-SE:
20 de outubro de 2011, quinta-feira, 16h30-19h, FANOR
Evento Gratuito e Aberto à Comunidade
Gentileza, divulgar entre listas e grupos de potenciais interessados

quinta-feira, 6 de outubro de 2011

Crescer? Decrescer?

Humanismo - "Crescimento" - Progresso & Desenvolvimento
Metáforas "infinitas" do Humanismo: Crescimento, Realização, Potencial...

(...)

...Humanismo em Transição ao Decrescimento...


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JORNAL O POVO
http://blog.opovo.com.br/pliniobortolotti/

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28/10/10
Decrescimento feliz
Plínio Bortolotti

É interessante ser surpreendido por argumentos sobre o quais nunca se havia pensado. Aconteceu quando ouvi, pela Rádio Senado, um discurso do senador Cristovam Buarque (PDT-DF).
Ele disse que estava na hora de se começar a debater o “decrescimento”, pois, disse o senador, os maiores problemas que o mundo enfrenta hoje advêm do crescimento da economia. Segundo ele, nos círculos intelectuais europeus já se espalha o conceito do “decrescimento feliz”. “A idéia de que é possível, e até necessário, reduzir o crescimento da produção material para que as pessoas possam viver mais felizes”.
Cristovam diz que o problema ambiental, o endividamento das pessoas, o aumento exagerado dos gastos públicos são conseqüência do crescimento da economia a qualquer preço. E que essa “bolha” vai estourar.
Para ele, a grande pergunta não é mais “como crescer”, mas “qual (tipo) de crescimento” queremos. Cristovam diz que a ânsia por crescimento tem de ser contestada, “pelo menos no nível do debate”. O senador diz que “a Europa inteira” e os Estados Unidos estão em crise, o que demonstraria não apenas uma crise “no modelo” , mas a crise de “um modelo” de desenvolvimento.
Ele dá um exemplo para mostrar o “absurdo da irracionalidade”, o fato de que toda vez que há um engarrafamento, aumenta o PIB. “Cada litro queimado de gasolina, mesmo que não o leve de um lugar a outro, aumenta o PIB. Quanto mais desperdício, mais aumenta o PIB. Há alguma coisa errada nisso. E ninguém vê.”
Cristovam levanta o assunto para dar um puxão de orelha (ele tem autoridade para isso) nos candidatos a presidente, que se abstiveram do debate sobre questões essências para o país.
Quanto ao mérito do que propõe Cristovam, sobre o “decrescimento feliz”, confesso não saber como isso seria possível, e nem ele disse no discurso. Mas que é um debate estimulante, isso é.

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03/02/2011
Tratado do decrescimento sereno
Plínio Bortolotti

Na edição de 28/10/2010 escrevi o artigo Decrescimento feliz, a partir de um discurso do senador Cristóvam Buarque (PDT-DF), pois me surpreendera o tema: a defesa de que os principais males atuais da humanidade vêm do crescimento excessivo das economias. E não o contrário.
Recebi alguns e-mails; um dos leitores, encontrei casualmente. Ele me disse ter lido o artigo, indicando-me um livro: “Pequeno tratado do decrescimento sereno” (2009), do economista francês Serge Latouche.
Nas suas duas primeiras duas partes o livro apresenta os argumentos que sustentam a tese: “O crescimento infinito é incompatível com um mundo finito” e que “estamos a bordo de um bólido sem piloto, sem marcha a ré e sem freio, que vai se arrebentar contra os limites do planeta”. A terceira parte se constitui um programa político para o decrescimento.
Na sua proposta “subversiva”, Latouche confronta até os ecologistas do “crescimento sustentável”. Para ele, “o desenvolvimento é uma palavra tóxica, qualquer que seja o adjetivo com que a vistam”. No mesmo saco, ele põe partidos de esquerda: “O capitalismo e socialismo produtivista são variantes de um mesmo projeto de crescimento”.
Com dados do instituto californiano Redifining Progress e do World Wide Found (WWF), mostra que a humanidade consome quase 30% a mais da capacidade de regeneração da biosfera”, e que se o padrão de consumo da humanidade fosse igual a dos americanos, seria preciso seis outros planetas terra para sustentá-lo.
Para Latouche, “quase todo mundo” concorda que se chegou a uma encruzilhada, “mas ninguém ousa dar o primeiro passo”, para falar sobre a necessidade do decrescimento.
Ao contrário do que se possa pensar, Latouche afirma que reduzir não significa regredir. Com o decrescimento – e a distribuição mais equitativa dos recursos –, diz ele, a sociedade viverá melhor “trabalhando e consumindo menos”.
É ou não é um bom tema para esquentar o sonolento debate entre “desenvolvimentistas” e “monetaristas”?

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06/10/2011
Quem são os lunáticos?
Plínio Bortolotti

Faz um ano fui surpreendido por discurso do senador Cristóvam Buarque (PDT-DF), na rádio Senado, dizendo ele algo que eu nunca ouvira: defendia o “decrescimento”, atribuindo alguns dos principais males por quais passa o planeta – e as pessoas – ao crescimento excessivo economia.
Escrevi texto sobre o assunto, Decrescimento feliz, que foi lido por pelo menos uma pessoa: esse leitor recomendou-me o livro Pequeno tratado do decrescimento sereno, de Serje Latouche, sobre o qual também escrevi artigo neste espaço.
Ambos, o senador e o economista francês, alertavam que o assunto ainda era muito novo, e seu alcance não ia além dos muros das universidades europeias. Mas o debate está avançando.
Leio no portal da BBC Brasil, que abriu um fórum com o título “O capitalismo fracassou?”, no qual ouve os mais diversos estudiosos sobre o assunto, matéria com Tim Jackson. Professor da Universidade de Surrey (Inglaterra), ele escreveu o livro com o título (traduzido) Prosperidade sem crescimento: economia para um planeta finito, no qual diz ser preciso “abandonar o mito do crescimento infinito”.
O crescimento econômico excessivo e sem precedentes na história, diz ele, está “em desacordo com a base de recursos finitos e o frágil equilíbrio ecológico” do planeta, do qual a humanidade depende para sua sobrevivência.
“Os dias de gastar dinheiro que não temos em coisas das quais não precisamos para impressionar as pessoas com as quais não nos importamos chegaram ao fim.”
O professor sabe que questionar o crescimento “é visto como um ato de lunáticos, idealistas e revolucionários”, mas reafirma o fracasso do “mito” do crescimento: “Fracassou para os dois bilhões de pessoas que vivem com menos de US$ 2 por dia; fracassou para os frágeis sistemas ecológicos dos quais dependemos para nossa sobrevivência”.

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Sentido

Aos Humanistas e seu desespero pelos sentidos...

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http://www1.folha.uol.com.br/fsp/ilustrad/fq0610201116.htm

São Paulo, quinta-feira, 06 de outubro de 2011
FOLHA DE SÃO PAULO - Ilustrada

CONTARDO CALLIGARIS
O sentido faz falta?

É uma queixa frequente: o mundo e a vida fazem pouco sentido -muito menos sentido do que antigamente, completam os saudosistas. Nas famílias, às vezes, essa queixa produz uma espécie de pingue-pongue. Os pais acham que os filhos adolescentes vivem por inércia, sem rumo e projeto: "Eles não estão a fim de nada que preste, não têm uma causa, uma visão de futuro".
Os filhos, confrontados com essa preocupação dos pais, declaram que, se precisassem mesmo de um sentido para viver, certamente não é com os pais que eles o aprenderiam: "Mas qual sentido gostariam que eu escolhesse para minha vida, se a vida deles não tem nenhum?". Nesse diálogo, o sentido parece ser sempre o que falta na vida dos outros que criticamos.
Também existem indivíduos (adolescentes e adultos) que se queixam da falta de sentido em sua própria vida: "Viver para quê? Todo o mundo vai morrer de qualquer jeito; que sentido tem?".
Geralmente, ao procurar responder a essas constatações desconsoladas, amigos, parentes e terapeutas agem como os pais que mencionei antes: querem injetar uma causa, uma visão de futuro na vida de quem lhes parece ter perdido o rumo "necessário" para viver.
Agora, eu não estou convencido de que, para viver, seja necessário que a vida tenha um sentido. Quando alguém se queixa de que sua vida é sem sentido, não tento interessá-lo em grandes razões para viver. Prefiro perguntar (para ele e para mim mesmo) de onde surge tamanha necessidade de um sentido. É curioso que, para alguns, a existência precise de uma justificação, de uma razão, de uma causa, de uma visão de futuro.
Em regra, essa necessidade de justificar a vida se impõe quando a própria vida não se basta mais. Ou seja, é quando os gestos cotidianos perdem sua graça que surge a obrigação de fundamentar a vida por outra coisa do que ela mesma.
Nota clínica: a depressão não é o mal de quem teria perdido (ou nunca achado) uma grande razão para viver. Depressão é ter perdido (ou nunca encontrado) o encanto do cotidiano. Por consequência, tentar "curar" a depressão de um adolescente propondo-lhe militância política ou fé religiosa é nocivo: se a gente conseguir capturá-lo num grande projeto, esse mesmo projeto o afastará ainda mais da trivialidade do dia a dia, cujo encanto ele perdeu.
Resumindo, quando alguém se queixa de que a vida não tem sentido, o problema não é ajudá-lo a encontrar o tal sentido da vida, mas ajudá-lo a descobrir que a vida se justifica por si só, que ela pode ser seu próprio sentido.
A cultura moderna poderia ser dividida em dois grandes blocos (que não coincidem com as tradicionais divisões de esquerda vs. direita etc.): os que pensam que o sentido da vida não está na própria experiência de viver (mas na espera de um além, num projeto histórico etc.), e os que pensam que a experiência de viver, por mais transitória que seja, é todo o sentido do qual precisamos (nota: a psicanálise, inesperadamente, está nesse segundo grupo, por constatar que a gente sofre mais frequente e gravemente pelo excesso do que pela falta de um sentido).
Alguém dirá que, com o declínio das utopias políticas e algum avanço (talvez) do pensamento laico, o sentido da vida está em baixa. Em suma, eu estaria chutando um cachorro morto.
Não concordo: talvez a própria crise das utopias e de algumas religiões instituídas esteja reavivando uma espiritualidade que tenta sacralizar o mundo, prometendo, no mínimo, sentidos ocultos.
O esoterismo "new age" nos garante que a vida tem um sentido misterioso, que a gente nem precisa saber qual é. Melhor assim, não é? Acabo de ler um breve (e delicioso) ensaio do filósofo italiano Giorgio Agamben, "La Ragazza Indicibile" (a moça indizível, Electa, 2010). Agambem (retomando um ensaio de Jung e Kerényi, de 1941, sobre Koré, a moça sagrada -Perséfone na mitologia clássica) mostra que os mistérios de Eleusis (que são os grandes ascendentes do esoterismo ocidental) de fato não revelavam nenhum grande sentido escondido das coisas e da vida -a não ser talvez o sentido de uma risada diante do pouco sentido do mundo.
Ele conclui com a ideia de que podemos e talvez devamos "viver a vida como uma iniciação. Mas uma iniciação ao quê? Não a uma doutrina, mas à própria vida e à sua ausência de mistério".