terça-feira, 1 de novembro de 2011

DSM-5

UMA CARTA ABERTA DAS PSICOLOGIAS AMERICANAS

Mais que o Humanismo de Carl Rogers, ou as versões de Humanismo Existencial, Fenomenológico, Existencial-Fenomenológico, Hermenêutico etc, o Movimento Humanista em Psicologia, ou a "Terceira Força" foi o berço de importantes críticas e rupturas na segunda metade do século XX: aqui se gestaram concepções muito particulares à Psicologia, confrontos à Psicoterapia e à Teoria da Personalidade então vigentes, modos e metodologias que não se reduzem às sociologias, antropologias e filosofias políticas com as quais dialoga. Somos capazes de desdobrar e intervir nos problemas humanos fora da racionalidade medicalizada-farmacológica? Crítica à patologização do comportamento humano, a Sociedade de Psicologia Humanista – Divisão 32 da Associação de Psicologia Americana formulou uma Carta Aberta ao DSM-V (a quinta versão em construção do Manual Diagnóstico e Estatístico da Associação Psiquiátrica Americana), que reuniu mais de 3200 assinaturas, apenas na primeira semana de circulação. Segundo informa a Carta, “DSM é um componente central da pesquisa, formação e exercício profissional da maioria de psicólogos registrados nos Estados Unidos.” A referida Petição eletrônica (www.ipetitions.com/petition/dsm5/) foi endossada pela Associação Americana de Aconselhamento, pela Sociedade Psicológica Britânica e pelo Conselho do Reino Unido de Psicologia, em aliança com a Rede de Psicologia Construtivista, a Associação pelas Mulheres na Psicologia, a Sociedade para Psicologia Descritiva, a Sociedade para Avaliação da Personalidade, a Sociedade dos Psicólogos Indianos, além das Divisões 7, 27, 29, 35, 39, 49 e 51 da APA. Robert Spitzer e Allan Frances, dois membros nos grupos de trabalho anteriores para construção do DSM, também somaram seus esforços a essa mobilização de profissionais e usuários da saúde mental. Frances, em sua análise de 1 de novembro (www.psychiatrictimes.com/blog/dsm-5/content/article/10168/1981447), afirmou que “(...) não parece haver apoio ao DSM-5 fora do círculo muito estreito daquelas várias centenas de experts que o criaram (...) não há qualquer grupo (...) fora da Associação Psiquiátrica Americana que tenha qualquer coisa boa a dizer sobre o DSM-5”. A Associação de Psiquiatria Americana, oligarquia autoral que responde pelo Manual, é uma instituição de classe que abriga 35 mil psiquiatras americanos. Todavia, entre os clínicos que farão uso desse Manual, estão mais de 200 mil assistentes sociais, 120 mil aconselhadores de saúde mental, 90 psicólogos, 75 mil enfermeiras psiquiátricas, 55 mil terapeutas familiares, além de terapeutas ocupacionais, educadores, peritos forenses, pesquisadores etc. Para imaginar o alcance desses diagnósticos além do território imediato americano, sugiro a leitura de: "Crazy like us: the globalization of the American Psyche" (de Ethan Watters, publicado pela Free Press, 2010). Se você deseja saber mais e participar das atividades em curso, no Facebook, acesse a comunidade “Society for Humanistic Psychology”.


André Feitosa (Professor de Psicologia - Faculdades Nordeste/FANOR e Doutorando em Psicologia - Universidade Autónoma de Lisboa Luís Camóes) -- andre_feitosa@msn.com

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