segunda-feira, 7 de novembro de 2011

DSM-5

UMA CARTA ABERTA DAS PSICOLOGIAS AMERICANAS

Mais que o Humanismo de Carl Rogers, ou as versões de Humanismo Existencial, Fenomenológico etc, o Movimento Humanista em Psicologia, ou a "Terceira Força" foi o berço de rupturas na segunda metade do século XX: aqui se gestaram concepções muito particulares à Psicologia, confrontos à Psicoterapia e à Teoria da Personalidade então vigentes. Questionávamos, como Humanistas, acaso seríamos capazes de desdobrar as problemáticas humanas fora do histórico médico e da racionalidade medicalizada-farmacológica? O Dr. Samuel A. Cartwright, por exemplo, em artigo publicado na The New Orleans Medical and Surgical Journal, em maio de 1851, identifica a “drapetomania” como um agravo mental que acomete os negros: “The cause, in the most of cases, that induces the negro to run away from service, is as much a disease of the mind as any other species of mental alienation, and much more curable, as a general rule” (p. 707; ref.: http://www.google.com/books?id=mjkCAAAAYAAJ&pg=RA2-PA707&#v=onepage&q&f=false). Crítica à patologização do comportamento humano, a Sociedade de Psicologia Humanista – Divisão 32 da Associação de Psicologia Americana formulou uma Carta Aberta ao DSM-5 (a quinta versão em construção do Manual Diagnóstico e Estatístico da Associação Psiquiátrica Americana), que reuniu centenas de notícias e mais de 3500 assinaturas, apenas em duas semanas de circulação. Segundo informa a Carta, “DSM é um componente central da pesquisa, formação e exercício profissional da maioria de psicólogos registrados nos Estados Unidos.” A referida Petição eletrônica (www.ipetitions.com/petition/dsm5/) foi endossada pela Associação Americana de Aconselhamento, pela Sociedade Psicológica Britânica e pelo Conselho do Reino Unido de Psicologia, em aliança com a Rede de Psicologia Construtivista, a Associação pelas Mulheres na Psicologia, a Associação para Educação do Aconselhamento e Supervisão, a Sociedade para Psicologia Descritiva, a Sociedade para a Psicologia do Aconselhamento, a Sociedade para Avaliação da Personalidade, a Sociedade dos Psicólogos Indianos, a Associação para o Aconselhamento Humanista, a Associação Nacional Psicológica Latina, a Associação para a Criatividade no Aconselhamento, a Sociedade para os Estudos Psicológicos de questões das Lésbicas, Gays, Bissexuais e Transgêneros, além das Divisões 6, 7, 17, 27, 29, 35, 39, 42, 44, 49 e 51 da APA. Robert Spitzer e Allan Frances, dois membros nos grupos de trabalho anteriores para construção do DSM, também somaram seus esforços a essa mobilização de profissionais e usuários da saúde. Frances, em sua análise de 1 de novembro (www.psychiatrictimes.com/blog/dsm-5/content/article/10168/1981447), afirmou que “(...) não parece haver apoio ao DSM-5 fora do círculo muito estreito daquelas várias centenas de experts que o criaram (...) não há qualquer grupo (...) fora da Associação Psiquiátrica Americana que tenha qualquer coisa boa a dizer sobre o DSM-5”. A Associação de Psiquiatria Americana, oligarquia autoral que responde pelo Manual, é uma instituição de classe que abriga 35 mil psiquiatras americanos. Todavia, entre os clínicos que serão referenciados, estão mais de 200 mil assistentes sociais, 120 mil aconselhadores de saúde mental, 90 psicólogos, 75 mil enfermeiras psiquiátricas, 55 mil terapeutas familiares, além de terapeutas ocupacionais, educadores, peritos forenses, pesquisadores etc. Para imaginar o alcance desses diagnósticos além do território imediato americano, sugiro a leitura de “Crazy like us: the globalization of the American Psyche” (de Ethan Watters, publicado pela Free Press, 2010). Outras Petições contra o DSM-5 também manifestam suas reivindicações, algumas, por exemplo, com próximo de 10 mil assinaturas (http://www.thepetitionsite.com/2/objection-to-dsm-v-committee-members-on-gender-identity-disorders/), outras, com 5 mil (http://www.stopdsm.blogspot.com/). Se você deseja saber mais e participar das atividades em curso, no Facebook, acesse a comunidade “Society for Humanistic Psychology”.

André Feitosa (Prof. de Psicologia - FANOR e Doutorando em Psicologia - Universidade Autónoma de Lisboa Luís Camóes) -- andre_feitosa@msn.com

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