quinta-feira, 6 de outubro de 2011

Crescer? Decrescer?

Humanismo - "Crescimento" - Progresso & Desenvolvimento
Metáforas "infinitas" do Humanismo: Crescimento, Realização, Potencial...

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...Humanismo em Transição ao Decrescimento...


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JORNAL O POVO
http://blog.opovo.com.br/pliniobortolotti/

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28/10/10
Decrescimento feliz
Plínio Bortolotti

É interessante ser surpreendido por argumentos sobre o quais nunca se havia pensado. Aconteceu quando ouvi, pela Rádio Senado, um discurso do senador Cristovam Buarque (PDT-DF).
Ele disse que estava na hora de se começar a debater o “decrescimento”, pois, disse o senador, os maiores problemas que o mundo enfrenta hoje advêm do crescimento da economia. Segundo ele, nos círculos intelectuais europeus já se espalha o conceito do “decrescimento feliz”. “A idéia de que é possível, e até necessário, reduzir o crescimento da produção material para que as pessoas possam viver mais felizes”.
Cristovam diz que o problema ambiental, o endividamento das pessoas, o aumento exagerado dos gastos públicos são conseqüência do crescimento da economia a qualquer preço. E que essa “bolha” vai estourar.
Para ele, a grande pergunta não é mais “como crescer”, mas “qual (tipo) de crescimento” queremos. Cristovam diz que a ânsia por crescimento tem de ser contestada, “pelo menos no nível do debate”. O senador diz que “a Europa inteira” e os Estados Unidos estão em crise, o que demonstraria não apenas uma crise “no modelo” , mas a crise de “um modelo” de desenvolvimento.
Ele dá um exemplo para mostrar o “absurdo da irracionalidade”, o fato de que toda vez que há um engarrafamento, aumenta o PIB. “Cada litro queimado de gasolina, mesmo que não o leve de um lugar a outro, aumenta o PIB. Quanto mais desperdício, mais aumenta o PIB. Há alguma coisa errada nisso. E ninguém vê.”
Cristovam levanta o assunto para dar um puxão de orelha (ele tem autoridade para isso) nos candidatos a presidente, que se abstiveram do debate sobre questões essências para o país.
Quanto ao mérito do que propõe Cristovam, sobre o “decrescimento feliz”, confesso não saber como isso seria possível, e nem ele disse no discurso. Mas que é um debate estimulante, isso é.

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03/02/2011
Tratado do decrescimento sereno
Plínio Bortolotti

Na edição de 28/10/2010 escrevi o artigo Decrescimento feliz, a partir de um discurso do senador Cristóvam Buarque (PDT-DF), pois me surpreendera o tema: a defesa de que os principais males atuais da humanidade vêm do crescimento excessivo das economias. E não o contrário.
Recebi alguns e-mails; um dos leitores, encontrei casualmente. Ele me disse ter lido o artigo, indicando-me um livro: “Pequeno tratado do decrescimento sereno” (2009), do economista francês Serge Latouche.
Nas suas duas primeiras duas partes o livro apresenta os argumentos que sustentam a tese: “O crescimento infinito é incompatível com um mundo finito” e que “estamos a bordo de um bólido sem piloto, sem marcha a ré e sem freio, que vai se arrebentar contra os limites do planeta”. A terceira parte se constitui um programa político para o decrescimento.
Na sua proposta “subversiva”, Latouche confronta até os ecologistas do “crescimento sustentável”. Para ele, “o desenvolvimento é uma palavra tóxica, qualquer que seja o adjetivo com que a vistam”. No mesmo saco, ele põe partidos de esquerda: “O capitalismo e socialismo produtivista são variantes de um mesmo projeto de crescimento”.
Com dados do instituto californiano Redifining Progress e do World Wide Found (WWF), mostra que a humanidade consome quase 30% a mais da capacidade de regeneração da biosfera”, e que se o padrão de consumo da humanidade fosse igual a dos americanos, seria preciso seis outros planetas terra para sustentá-lo.
Para Latouche, “quase todo mundo” concorda que se chegou a uma encruzilhada, “mas ninguém ousa dar o primeiro passo”, para falar sobre a necessidade do decrescimento.
Ao contrário do que se possa pensar, Latouche afirma que reduzir não significa regredir. Com o decrescimento – e a distribuição mais equitativa dos recursos –, diz ele, a sociedade viverá melhor “trabalhando e consumindo menos”.
É ou não é um bom tema para esquentar o sonolento debate entre “desenvolvimentistas” e “monetaristas”?

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06/10/2011
Quem são os lunáticos?
Plínio Bortolotti

Faz um ano fui surpreendido por discurso do senador Cristóvam Buarque (PDT-DF), na rádio Senado, dizendo ele algo que eu nunca ouvira: defendia o “decrescimento”, atribuindo alguns dos principais males por quais passa o planeta – e as pessoas – ao crescimento excessivo economia.
Escrevi texto sobre o assunto, Decrescimento feliz, que foi lido por pelo menos uma pessoa: esse leitor recomendou-me o livro Pequeno tratado do decrescimento sereno, de Serje Latouche, sobre o qual também escrevi artigo neste espaço.
Ambos, o senador e o economista francês, alertavam que o assunto ainda era muito novo, e seu alcance não ia além dos muros das universidades europeias. Mas o debate está avançando.
Leio no portal da BBC Brasil, que abriu um fórum com o título “O capitalismo fracassou?”, no qual ouve os mais diversos estudiosos sobre o assunto, matéria com Tim Jackson. Professor da Universidade de Surrey (Inglaterra), ele escreveu o livro com o título (traduzido) Prosperidade sem crescimento: economia para um planeta finito, no qual diz ser preciso “abandonar o mito do crescimento infinito”.
O crescimento econômico excessivo e sem precedentes na história, diz ele, está “em desacordo com a base de recursos finitos e o frágil equilíbrio ecológico” do planeta, do qual a humanidade depende para sua sobrevivência.
“Os dias de gastar dinheiro que não temos em coisas das quais não precisamos para impressionar as pessoas com as quais não nos importamos chegaram ao fim.”
O professor sabe que questionar o crescimento “é visto como um ato de lunáticos, idealistas e revolucionários”, mas reafirma o fracasso do “mito” do crescimento: “Fracassou para os dois bilhões de pessoas que vivem com menos de US$ 2 por dia; fracassou para os frágeis sistemas ecológicos dos quais dependemos para nossa sobrevivência”.

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