sábado, 28 de fevereiro de 2009

Experiência #004 (Continuação...)

(Continuação, postagem #004)


A primeira citação traz o próprio Rogers, apresentando suas Proposições acerca do Organismo, uma citação de 1951 e que, de certa maneira, é através dela que se virá a falar de (facilitação de) Organismo, Organicidade e Funcionamento Organísmico;

O segundo (e, de certa forma, também o terceiro) texto aborda, dentre outros aspectos, a transição contemporânea que modifica a


-- Experiência como Er|fahrung (Experiência: Erfahrung; Experienciado: Erfahrene; Experienciação: Erfahrens; Experiencial: Experienzielle; Core-Experience: Kernerfahrung; Experimental: Experimentel)


para conceber a


-- Experiência como Er|lebnis... (“das Leben”, que tem como sinônimo “Existenz”, segundo o Dicionário HueberDuden, e que também está presente nos vocábulos de “Lebenswelt” e de “Lebenskraft”)



* * * PRIMEIRA CITAÇÃO * * *

Rogers, C. (1951). CLIENT-CENTED THERAPY: ITS CURRENT PRACTICE, IMPLICATIONS AND THEORY. Londres: Constable. (pp. 483-524).

THE [19] PROPOSITIONS

"I) Every individual exists in a continually changing world of experience of which he is the center.

II) The organism reacts to the field as it is experienced and perceived. This perceptual field is, for the individual, ´reality´.

III) The organism reacts as an organized whole to this phenomenal field.

IV) The organism has one basic tendency and striving – to actualize, maintain, and enhance the experiencing organism.

V) Behavior is basically the goal-directed attempt of the organism to satisfy its needs as experienced, in the field as perceived.

VI) Emotion accompanies and in general facilitates such goal-directed behavior, the kind of emotion being related to the socking versus the consummatory aspects of the behavior, and the intensity of the emotion being related to the perceived significance of the behavior for the maintenance and enhancement of the organism.

VII) The best vantage point for understanding behavior is from the internal frame of reference of the individual himself.

VIII) A portion of the total perceptual field gradually becomes differentiated as the self.

IX) As a result of interaction with the environment, and particularly as a result of evaluational interaction with others, the structure of self is formed – an organized, fluid, but consistent conceptual pattern of perceptions of characteristics and relationships of the ´I´ or the ´me,´ together with values attached to these concepts.

X) The values attached to experiences, and the values which are a part of the self structure, in some instances are values experienced directly by the organism, and in some instances are values introjected or taken over from others, but perceived in distorted fashion, as if they had been experienced directly.

XI) As experiences occur in life of the individual, they are either (a) symbolized, perceived and organized into some relationship to the self, (b) ignored because there is no perceived relationship to the self-structure, (c) denied symbolization or given a distorted symbolization because the experience is inconsistent with the structure of the self.

XII) Most of the ways of behaving which are adopted by the organism are those which are consistent with the concept of self.

XIII) Behavior may, in some instances, be brought about by organic experiences and needs which have not been symbolized. Such behavior may be inconsistent with the structure of the self, but in such instances the behavior is not ´owned´ by the individual.

XIV) Psychological maladjustment exists when the organism denies to awareness significant sensory and visceral experiences, which consequently are not symbolized and organized into the gestalt of the self-structure. When this situation exists, there is a basic or potential psychological tension.

XV) Psychological adjustment exists when the concept of the self is such that all the sensory and visceral experiences of the organism are, or may be, assimilated on a symbolic level into a consistent relationship with the concept of self.

XVI) Any experience which is inconsistent with the organization or structure of self may be perceived as a threat, and the more of these perceptions there are, the more rigidly the self-structure is organized to maintain itself.

XVII) Under certain conditions, involving primarily complete absence of any threat to the self-structure, experiences which are inconsistent with it may be perceived, and examined, and the structure of self revised to assimilate and include such experiences.

XVIII) When the individual perceives and accepts into one consistent and integrated system all his sensory and visceral experiences, then he is necessarily more understanding of others and is more accepting of other as separate individuals.

XIX) As the individual perceives and accepts into his self-structure more of his organic experiences, he finds that he is replacing his present value system – based so largely upon introjections which have been distortedly symbolized – with a continuing organismic valuing process."


* * * SEGUNDA CITAÇÃO * * *

Morato, H.T.P. (2008). Prática Psicológica em Instituições: ação política. VIII Simpósio Nacional de Práticas Psicológicas em Instituições. Disponível em: http://www.lefeusp.net/arquivos_diversos/VIII_simposio_anpepp/textos%20pesquisadores/morato08.pdf

“Nas organizações, objetivos, valores e processo de socialização são propostos constantemente aos indivíduos, reduzindo ainda mais o espaço de sua subjetividade e tendo por finalidade atá-los firmemente às malhas por elas tecidas. A ´cultura da organização´ na instituição ganha, muitas vezes, cunho da dimensão do sagrado, substituindo a religião na tarefa de garantir tanto um sistema de significações quanto a tranqüilização, ao transformar em ponderável a imponderabilidade do destino, ao negar a existência do chaos 4. (p. 10)

(...)

4. A palavra chaos, neste texto, é tomada em seu sentido etimológico grego, significando "todas as possibilidades". (p. 10)

(...)

Algumas provocações de Walter Benjamin (1985) podem ser aqui resgatadas para poder encaminhar o sentido de ação política na prática psicológica em instituições.

Dentre elas, é central o conceito de experiência - Erfahrung - pertencente à ordem da tradição, tanto na vida coletiva como na vida privada. Não se constitui isoladamente, mas por situações vividas com todos os sentidos, visão, tato, audição, olfato, paladar, comunicando sentido à trajetória humana. Para Gagnebin (1986),

Benjamin retoma a questão da "Experiência", agora dentro de uma nova problemática: de um lado, demonstra o enfraquecimento da "Erfahrung" no mundo capitalista moderno em detrimento de um outro conceito, a "Erlebnis", experiência vivida, característica do indivíduo solitário; esboça, ao mesmo tempo, uma reflexão sobre a necessidade de sua reconstrução para garantir uma memória e uma palavra comuns, malgrado a desagregação e o esfacelamento do social. O que nos interessa aqui, em primeiro lugar, é o laço que Benjamin estabelece entre o fracasso da "Erfahrung" e o fim da arte de contar, ou, dito de maneira inversa (mas não explicitada em Benjamin), a idéia de que uma reconstrução da "Erfahrung" deveria ser acompanhada de uma nova forma de narratividade. A uma experiência e uma narratividade espontâneas, oriundas de uma organização social comunitária centrada no artesanato opor-se-iam, assim, formas "sintéticas" de experiência e de narratividade, reconheceram a impossibilidade da experiência tradicional na sociedade moderna e que se recusam a se contentar com a privaticidade da experiência vivida individual ("Erlebnis"). (p. 10-11).

É assim que se faz possível recuperar, mais uma vez, o sentido etimológico das palavras. Afinal, como compreender política para além do significado adquirido dentro da cultura que atrofiou a experiência humana?

Considerando público como proveniente do latim publicus, poplicus, populus, diz respeito ao que se relaciona e afeta os homens organizados em comunidade, contemplando por comunidade toda humanidade. Refere-se, ainda, ao que se apresenta acessível e compartilhado entre todos os seus membros, como modo de prover benefícios comuns. Nessa medida, político, como adjetivo, provindo do latim politicus e do grego politicos, politēs, refere-se ao ser cidadão, que se abre para habilidades sábias para lidar com coisas e modos de ser no mundo.

Por sua vez, política, como substantivo, do grego politika, politikos, refere-se à arte ou ciência de governar, para regular e controlar o viver dos homens em sociedade. Refere-se, ainda, a um ramo da ética que se ocupa com o social para além do indivíduo, ou uma divisão da filosofia moral preocupada com relações éticas e deveres de governantes ou organizações sociais, ou seja, ética pública.

Contudo, dada a sua proveniência a partir de polis, cidade, comporta o sentido da ação política ou prática exercida pelos cidadãos no espaço público (ágora), fazendo uso da palavra para expressar suas reflexões acerca do modo de condução da vida em comunidade na cidade. (pp. 14 – 15)”



* * * TERCEIRA CITAÇÃO * * *

Mello, E.D.; Sousa, E.A.L. (2005). A experiência como intervalo para novas visibilidades. Psicol. Soc., Porto Alegre, 17 (1). Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-71822005000100009


A noção de experiência, que entendemos como potência para abertura de territórios existenciais mais ricos, não pode ser reduzida a meras vivências psicológicas. Esta diferença foi devidamente explicitada por Walter Benjamin (1985), em textos que demonstram o enfraquecimento - no sistema capitalista - da experiência (Erfahrung), em prol da experiência vivida (Erlebnis). Para este autor, a Erfahrung se situa na interface entre o que é coletivo e o que é singular, entre o que é do conhecimento estabelecido pela tradição e aquele que irrompe, fazendo um furo no que se afigura como perfeitamente estabelecido. Já a Erlebnis é característica do indivíduo solitário da modernidade, pois, como vimos, os modos de subjetivação próprios do capitalismo privilegiam formas de relação consigo pautadas em modos psicológicos individualizantes, nos quais o coletivo se constitui como mero pano de fundo. Referimo-nos, aqui, portanto, à experiência enquanto Erfahrung, como aquela que permite que algo nos aconteça, como diz Jorge Larrosa (2002), quando aponta o excesso de informação, de opinião, de trabalho, e a decorrente falta de tempo, como os fatores que a tornam tão rara hoje em dia.



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