terça-feira, 16 de novembro de 2010

NeuroPertença

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NeuroFilia
Luciana Christante, 21/Maio.2009

http://scienceblogs.com.br/efeitoadverso/2009/05/neurofilia.php

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Os incríveis avanços das neurociências nos últimos anos têm revolucionado nossa compreensão sobre o cérebro humano, além de impor grandes desafios lexicográficos. Para além da neurobiologia, da neuropsicologia, da neuroanatomia e da neuropsicofarmacologia, a quantidade de palavras com prefixo neuro vêm crescendo vertiginosamente. E tende a crescer ainda mais, podendo até, quem sabe, superar o número de neurônios de um ser humano - o inconsciente é o limite.

O fato é que as neurociências não estão mais restritas aos muros e jargões acadêmicos. Tal como axônios ávidos por formar uma sinapse, elas emitem seus prolongamentos para diversos níveis de nossa experiência diária, estimulando a criatividade de vários setores da sociedade (já há quem fale em neurodemocracia). E não é complicado usufruir seus benefícios. Um exemplo é a ginástica neural, um método inovador inventado por um brasileiro e que promete maravilhas para o seu corpinho. Aliás, para potencializar os resultados, você pode fazer uma neurodieta, turbinando assim sua neurointeligência e também sua neurofelicidade.

Agora, se em vez de cultivar o narcisismo você está mais preocupado com o futuro do planeta, informe-se sobre a neuroecologia e descubra que a Amazônia está para o cérebro assim como o desmatamento está para o mal de Alzheimer. Mas se o que anda tirando seu sono é a crise financeira mundial, a solução pode estar na neuropolítica, na neuroeconomia, nas neurofinanças e no neuromarketing, embora seja preciso reconhecer que as pesquisas nessas áreas vêm enfrentando alguns desafios neuroéticos, que para ser perfeitamente compreendidos exigem uma abordagem neurofilosófica e, em alguns casos, neuroepistemológica. (Perdoe-me se não me faço clara, estou mesmo pensando em fazer um curso de neurodidática.) Para os não-iniciados em matérias de alta complexidade neural, talvez um bom ponto de partida seja algumas noções básicas de neurohistória.

O problema do parágrafo anterior é que, se não houver moderação, suas recomendações talvez acabem por estimular excessivamente estruturas neurais associadas ao medo, à ansiedade e até à depressão, como sugerem vários estudos com ressonância magnética funcional. Falemos então de emoções positivas, de atrativos que trazem relaxamento e ainda podem fazer um afago no seu sistema de recompensa - e não pense que me refiro a drogas.

Que tal uma neuromúsica, um neurofilme ou um pouco de neuropoesia? É variado o cardápio da neuroarte, a mais alta expressão de uma neurocultura que vem rompendo a tradicional doutrina neuronal para revelar uma nova neuroestética em toda a sua neuroplasticidade. Segundo alguns neurocríticos, é uma tendência que opera sobre a experiência de alteridade e pode levar à neurogênese de algo novo e ainda incerto, que por enquanto vem sendo chamado vagamente de Neuro sapiens.

Especulações à parte, o fato é que a neuroarte já encontra aplicação na reabilitação de neuróticos e de neurofóbicos. Estes últimos, no entanto, são bem poucos. De causa desconhecida, a neurofobia ainda é uma condição pouco diagnosticada, em parte devido à falta de escalas neuropsiquiátricas específicas, em parte porque essas pessoas preferem não se identificar, temendo ser rotuladas como neurochatas. Suspeita-se que a neurofobia seja a evolução de um quadro de neurofilia crônica e não tratada, o que não deixa de ser um neuroparadoxo. É possível que o número de casos aumente nos próximos anos, segundo neuroepidemiologistas.

2 comentários:

  1. neuro.literariamente falando, interessante e adocicada construção, mas neuro.humanamente (?) falando, muito amargo para meu paladar que tem saliva, sangue e experiências...

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  2. saliva, sangue e experiências? hum. poético.

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