quarta-feira, 10 de junho de 2009

COM LENÇO E COM DOCUMENTO, EU VOU


"um corpo celeste caindo...
um corpo celeste caindo, em direção ao mundo...

me lembro, agora, de uma "re-união", ouvindo falar-me de um cometa...
um cometa que, também me lembro, associou-se à cena do cometa que traz alguém para a Terr...

um corpo celeste caindo, incendiário, colidindo...
afastando-se de onde vem e completando-se para onde veio...


chegando, finalmente, a onde poderia chegar...

chegando, sem perder-se de onde veio...


linda forma de começar a manhã"

André.




O bom senso aconselha que não se trata uma instituição fundante, como a Universidade, a partir da ostenção da força física camuflada por homens de escudo. A resistência institucional não precisaria da "necessária" sombra repressora. Ver a Universidade de São Paulo, de celeiro intelectual transformado em front de coerção policial, é um ruído, um alerta, se não uma escara institucional que poderia ter sido evitada pela diplomacia da necessidade. O brasão atemporal da Universidade, enquanto um largo horizonte social, traz o arquétipo profundo de resguardar o conhecimento vivo produzido na experiência humana. Criamos diferentes Universidades para acolher os diferentes conhecimentos, em suas diferentes áreas, disciplinas, enfoques e especificidades. Lastimavelmente, nos últimos meses, a Universidade não é a única das (sérias) instituições com (sérias) cicatrizes: também o Supremo Tribunal Federal, o Senado da República e, até mesmo, um terceiro mandato consecutivo (12 anos de governo) para um mesmo Chefe de Estado quando a Democracia Republicana ainda não completou 21 anos. Sim, estou acometido de uma febre institucional. Não pelas mesmas razões que, outrora, a geração de beatniks (´60s), de hippies (´70s), de yuppies (´80s) enxergou “liberdade” na possibilidade de colapso generalizado para as fronteiras simbólicas que organizam a vida em comum. Não se trata, por outro lado, de um hermetismo saudosista, daqueles que só vislumbram a redenção possível através de uma reafirmação dos moldes "tradicionais" para a família, a educação, a política, o trabalho, a legislação, a moral, a religião etc. Não pode ser, também, um tipo de refração social, dita como alternativa e comunicada no hedonismo de clubbers (´90s) ou na melancolia de emos (´00s). Nós, os Humanistas dos Tempos de Hoje, reconhecemos toda a desconstrução, a crítica, os reviravoltas e as crises... todavia, nenhum dogma da desesperança e do desamparo irá agrilhoarnos em qualquer esfera outra, se não, o "aqui-mesmo-nós-todos-com-a-vida". Eu falo, justamente, a partir daquela Geração do "lá" e do "cá", do inconciliável (?) Cyber e do Oikos, daquelas pessoas que ainda se debatem com o trabalho hercúleo de construir uma epistemologia e campo de prática intermediários e possível desse Humano hodierno. Pensar acerca do seu lugar no Universo, na Vida e nesse Planeta, de um lugar também capaz de incluir uma parte de nossas aspirações perenes, nossas consolidações sociais, comunitárias, científicas, artísticas, culturais, éticas, espirituais, sem que, para isso, sejamos forçados a acreditar na derrocada absoluta das instituições, sem que para isso tenhamos que nos valer, necessariamente, de um Antropocentrismo secular que se auto reivindica como mediador holístico do Todo, de um Racionalismo autofágico que excluiu a ecologia de todos os demais saberes, de um equacionamento da experiência humana em termos, apenas, de comportamentos monitoráveis e cenários alinhavados entre metas e competências. Não estou, pois, no assento daqueles mesmos para quem, ainda no lastro aristotélico, o fato “é” ou “não é”, descartando-se qualquer conjectura (de Terceiro Excluído) onde se venha, concomitantemente, a "ser" e "não-ser". Se o Movimento do Potencial Humano, nos anos de 1960, magnetizou-se através de um senso de experimentalismo frouxo de recursos e relacionabilidades, que necessariamente exigiu os ataques institucionais, talvez, agora, para contextualizarmos um novo Humanismo, tenhamos que definir essa metáfora do Funcionamento Pleno de nossas capacidades e aptidões a partir de uma dimensão mais experiencial, mais radicalmente unificadora para as oscilações fortuitas entre o dentro e o fora, entre o externo e o interno. De um lugar, pois, onde o que eu sou como projeto humano é também um fluxo interdependente, interrelacional e intercomplementar na tessitura plural dos campos múltiplos da Organicidade inteira que fazemos parte. Trata-se de catalizar a inteireza do processo onde estamos juntos, como vida, e não de uma totalidade utópica de um ou de outro indivíduo, de uma ou de outra cultura. Não há como, nesse prisma, considerar apenas a realidade de um membro ou de um órgão, fazer um recorte particular de um aspecto ou de uma interface, sem levar em consideração nossa inserção, criaturas vivas e planetárias, no processo maior que constitui um dado funcionamento em rede, um funcionamento Organísmico. Dessa experiência de um Humanismo de Funcionamento Pleno, ou de um Humanismo Organísmico, também fazem parte as instituições. Não apenas elas, certamente, mas elas inclusas. Não apenas o dinheiro, contudo, ele também como uma faceta das nossas trocas simbólicas. Não apenas elas, as instituições com seus protocolos, prazos, consensos, lacunas, fagulhas e rupturas, mas, também, as dimensões outras que nos apresentam as regras da biologia e da complexidade. Não falamos, apenas, de administrar os circuitos de normas e valores sociais, mas, também, reconhecer e legitimar as estruturas e horizontes de funcionamentos que não estão restritos às escolhas da consciência e às adesões de nossa personalidade humana. A vida e o Universo não está à serviço dessa espécie humana - há mais... há mais que, apenas, demandas humanas. Em outro momento, a partir do seu panorama calcado nas Teorias Experiências, Organísmicas e Pragmatistas Americanas, Carl Rogers discutia que estamos filiados, a partir da nossa natureza humana indelével e inalienável: (1) aos processos de expansão, ampliação, complexificação que em comum alcançam as expressões inorgânicas da Vida e do Universo, ressoando, por meio de uma Tendência Formativa, com as qualidades de nós mesmos que sãs mesmos que se do Universo, ressoando com as porçna indelncionamento que n mas, tambenaçxigiuaço também poeira das estrelas; (2) aos processos de crescimento, diferenciação, aperfeiçoamento que se fazem observados em todas as expressãos orgânicas do Universo, ressoando, por meio de uma Tendência Atualizante, com as porções de nós mesmos que permanecem hummus, anima e vitalidade; (3) aos processos de valorização, modificação, reposicionamento que são manifestos nos diversos circuitos e enodamentos de funções vitais, ressoando, por meio de uma Tendência Auto-Regulatória, com tudo ademais que se renova nas espirais de participações sistêmicas. Juntos, os vetores de Formatividade, Atualização e Regulação oportunizariam aquilo que, na tradição do Humanismo recente (apenas um dos vários Humanismos anteriores: Romântico, Teológico, Renascentista etc), ficou conhecido como uma "Tendência à Realização". Carl Rogers, à sua época, descreveu o que ele chamou das "Pessoas do Amanhã", referindo-se a uma categoria de comportamentos associados à maior autonomia dos indivíduos frente as prerrogativas e expectativas institucionais. De certa maneira, seu enquadramento analítico para a época que ele mesmo fez parte, foi satisfatório para retratar os sentidos que aquela Geração fez de si e do mundo no seu entorno. Diríamos, uma conquista face alguns dos Ideais de Eu e das Condições de Valia herdados. Hoje, para estarmos mais próximos do senso Humanista que podemos sustentar e advogar, nossos esforços inclinam-se para facilitar experiências de pertencimento coletivo e de significado pessoal quando, para inúmeros indivíduos, é mais plausível renunciar, desistir, abdicar desse nosso "difícil" mundo e de suas dificuldades contigenciais ao nosso momento histórico. Enfrentar nossas cóleras sociais, as dificuldades existenciais à roboque do cotidiano, sem as instituições e garantias do passado ou as perspectivas otimistas do futuro, trouxe uma querela peculiar dos nossos dias: para existir Humanismo e qualquer debate do Humano é preciso, fundamentalmente, que ainda existam experiências voluntariamente "querendo" estar por aqui. Experiências que, participando da vida, possam ancorar o mistério, a eternidade, a magia, o inacreditável, o inpoderável, o imprevisível, o incerto, enfim, os fluxos, os campos e as expressões daquilo que pode "desacomodar". Enfim, uma parte da vida que nos cabe, na medida em que dela podemos participar, e que oportuniza uma parcela do Universo-inteiro chegar, ancorar-se e enraizar-se; oportuniza, portanto, que o Universo gere os efeitos de sua presença. Não basta apenas cumprir a estadia por aqui como se estivesse alhures; estar aqui, como se não fizesse parte da complexidade e das intransigências, das dificuldades e do caos próprios do que significa estar irremediavelmente "aqui", ser influenciado e influenciar aqueles que também estão aqui, sem aliciar-se à fantasia de que uma ou outra definição do "aqui" abarque todas as esquinas possíveis do Universo. Nossa estadia nesse Planeta, tenha ela a duração de um único ou dez setênios, será marcada pelo fato que estamos sujeitos aos dramas e glórias, oportunidades e limitações dessa forma de vida - uma das formas de vida nesse habitat, que inclui a Escola, a Empresa, a Cidadania, a República, o Mundo etc. Possibilitar a expressão múltipla desse Humanismo, através de uma Abordagem Centrada na Vida, de uma implicação Organísmica de Funcionamento Pleno em nossas territorialidades possíveis, esse é um dos objetivos de um projeto do Humano em curso. Não se excluem as instituições, não se nega a barbárie e a violência, mas, por outro lado, não se aquiesce a magnitude da vida e da expressão humana como meras silhuetas de comportamentos reativos e parciais daqueles que não mais contemplam a auvorada. Sejamos, pois, os Mensageiros do Amanhecer, aqueles que ensejam testemunhar acerca do Humano em relação com a Vida.


André Feitosa